Cabo-verdianas e cabo-verdianos,
Em cada canto do mundo onde ecoa uma morna, onde uma criança pronuncia as primeiras palavras em crioulo, onde se partilha um prato de cachupa, ali pulsa Cabo Verde. É nessa alma coletiva, feita de memórias, afetos e horizontes, que celebramos o Dia da Cultura e das Comunidades.
O dia 18 de outubro é, para todos nós, uma data de profunda celebração. É o dia do nosso patrono, Eugénio Tavares — visionário e poeta da saudade, do amor e da liberdade; jornalista e intelectual comprometido com a dignidade humana; escritor e compositor que fez da morna o espelho mais límpido da alma cabo-verdiana e da poesia o reflexo de um país onde se vive a liberdade e se imaginam, com sabedoria e inteligência, a prosperidade e a felicidade.
Hoje, o nome de Cabo Verde ecoa pelos quatro cantos do mundo, por um motivo mágico e histórico: pela primeira vez, a nossa seleção nacional de futebol, os Tubarões Azuis, conquistou, com todo o mérito, um lugar na Copa do Mundo. Por estes dias, falar da cultura e das comunidades é evocar a sua conjugação mais perfeita: os Tubarões Azuis.
Há momentos em que a nação se redefine, atribuindo-se novos significados e novas possibilidades.
Este feito extraordinário faz de Cabo Verde o segundo país mais pequeno de sempre a qualificar-se para um Campeonato do Mundo. Devemos este verdadeiro milagre — que é também um gesto de diplomacia e de afirmação nacional — à força da nossa cultura. Foi graças ao cimento da identidade nacional e à preservação dos seus traços essenciais na nossa ‘11.ª ilha’ que pudemos construir, unindo talentos das ilhas e da diáspora, a nossa seleção nacional.
Celebremos, pois, e reconheçamos o papel fundamental dessa diáspora — esse braço estendido de Cabo Verde, que, espalhado pelo mundo, leva consigo a força, o talento e o amor à terra. Esta fórmula vitoriosa é também metáfora do que podemos alcançar em tantos outros domínios: o nosso capital humano, disseminado pelos cinco continentes, é vasto e precioso — um património vivo que devemos valorizar e integrar cada vez melhor no desenvolvimento nacional.
O vosso contributo, cabo-verdianos do mundo, tem sido constante e insubstituível. Com o vosso saber, experiência e generosidade, tendes alimentado o bem-estar coletivo, tanto nos tempos prósperos como nos mais difíceis. Ainda assim, Cabo Verde deve reforçar e reinventar a sua relação com a diáspora, tornando-a mais eficaz, dinâmica e mutuamente enriquecedora. Só assim poderemos consolidar uma ligação que una experiências, valores e talentos, em prol do progresso e da projeção global da Nação.
A cultura e as comunidades são, juntas, o coração pulsante do nosso desenvolvimento. A cultura, porque molda a forma como pensamos, criamos e inovamos; as comunidades, porque ampliam o nosso horizonte e nos ligam ao mundo. Através delas, projetamos a nossa identidade, atraímos oportunidades e fortalecemos uma economia de conhecimento, criatividade e solidariedade. O futuro de Cabo Verde será tanto mais promissor quanto melhor soubermos transformar esta riqueza imaterial em energia para o progresso e em força motriz de um desenvolvimento verdadeiramente sustentável.
A força de Cabo Verde não reside apenas nas suas ilhas, mas no oceano humano que somos. Somos dez ilhas de terra e uma imensa nação de afetos, talento e sonhos espalhados pelo mundo. Somos um povo que aprendeu a transformar a adversidade em arte, a saudade em energia e o mar em novos horizontes.
A cultura cabo-verdiana é o fio invisível que nos congrega, que transcende fronteiras, línguas e geografias. Onde houver um cabo-verdiano, há Cabo Verde. A nossa cultura é o elo que nos prende às origens — da língua à música, da gastronomia às artes — e, simultaneamente, uma ponte entre gerações: expressão de liberdade e voz da alma insular. A morabeza, a morna, a língua cabo-verdiana, a literatura, a solidariedade comunitária e o espírito resiliente são a expressão mais autêntica da nossa identidade e da nossa humanidade partilhada.
Neste ano de conquistas e de celebrações, saúdo o escritor Germano Almeida, Prémio Camões 2018, recentemente distinguido, em Lisboa, com o Prémio Literatura na Gala da Lusofonia 2025. Saúdo também a pequena Lauryn Rose Cabral Teixeira, criança de origem cabo-verdiana residente em Londres, reconhecida entre as 100 Crianças Prodígio Mais Notáveis do Mundo no Parlamento britânico e laureada nos Make a Difference Awards da BBC. São exemplos luminosos do génio e da criatividade que habitam em nós. Que feitos como os de Germano e Lauryn nos inspirem a investir na educação, na cultura e na imaginação — as verdadeiras chaves do futuro.
Neste mesmo espírito, prestamos sentida homenagem aos artistas que nos deixaram no último ano, mas cujas obras permanecem vivas no coração da Nação: Romeu di Lurdis, José Paris (Zé Paris), Zito de Codê di Dona, Vaiss, Kiki Lima, Antonito Sanches, Carlos Germana (Djurumani), entre outros. Que as suas memórias nos recordem que a arte é uma forma de eternidade.
Permitam-me um apelo: que esta maré de união que hoje nos envolve, impulsionada pelos nossos Tubarões Azuis, se converta num djunta-mon nacional em torno de outros grandes desígnios — melhorar a saúde, fortalecer a educação, prestar serviços finais de qualidade aos cidadãos e promover o crescimento inclusivo e com qualidade ambiental. Celebremos as nossas conquistas, mas olhemos também para o futuro com coragem, solidariedade e engenho.
Neste cinquentenário da independência nacional, celebremos não apenas o que somos, mas o que continuamos a sonhar. A cultura e as comunidades são o fio condutor dessa travessia coletiva rumo a Cabo Verde 2075 — mais unido, mais inovativo, mais próspero e mais justo.
Porque a cultura é a forma mais bela de liberdade, e as comunidades são a expressão mais viva da solidariedade humana.
Que Cabo Verde continue a ser, no meio do Atlântico e do mundo, um farol de dignidade, de criatividade, de audácia e de esperança.
Muito obrigado!

