Discurso de Sua Excelência o Presidente da República, Senhor José Maria Neves, no Pequeno-almoço de Alto Nível para os Campeões da Mobilidade Climática sobre o tema

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Cimeira da Mobilidade Climática

“Permitir às Pessoas Jornadas de Adaptação Positivas”

 “Aproveitar a Mobilidade Climática para a Adaptação e a Resiliência”

Nova Iorque, 25 de setembro de 2024

Senhoras e Senhores Chefes de Estado e de Governo,

Excelências,

É consabido que a crise climática que assola o mundo está a obrigar milhares de pessoas a abandonar as suas casas. Secas prolongadas, tempestades mais frequentes e intensas, a subida do nível do mar e a degradação dos recursos naturais têm causado deslocamentos forçados, criando uma nova categoria de refugiados: os refugiados climáticos.

Em Cabo Verde, os primeiros migrantes deixaram as ilhas, em meados do século XIX, para fugir de secas severas e cíclicas que levariam à interrupção dos meios de subsistência e, finalmente, à fome. Os nossos ciclos migratórios continuaram desde então e somos conhecidos como sendo uma Nação Diasporizada, com mais cabo-verdianos a viver no estrangeiro do que nas ilhas.

Estima-se que, até 2025, pelo menos 123 milhões de pessoas em África, na região das Caraíbas e no Pacífico serão forçadas a abandonar os locais a que chamam casa. A maior parte dos movimentos induzidos pelo clima será interna, mas a mobilidade climática também contribuirá para a migração transfronteiriça e internacional.

Migrações induzidas pelo clima atingem de forma desproporcionada os países em desenvolvimento mais vulneráveis, como os SIDS. Neste cenário desolador somos obrigados a buscar soluções holísticas que estejam à altura da gravidade e urgência desta ameaça.

Nesse sentido, apelamos à comunidade global para agir em solidariedade através da concessão dos necessários apoios aos governos e às comunidades para projeções precisas das tendências e do âmbito da mobilidade climática para poder antecipar, planear, prevenir perdas e danos e investir em infraestruturas de apoio, meios de subsistência e coesão social. A comunidade internacional deve igualmente colmatar as lacunas jurídicas existentes para assegurar que a mobilidade, involuntária e forçada pelas circunstâncias, aumente a resiliência, proteja os direitos das pessoas e ofereça novas oportunidades às famílias e comunidades.

Os enormes desafios que se nos colocam representam também oportunidades. Assim, notámos que com quadros facilitadores para a circulação de pessoas e investimentos público-privados em educação, capacitação e meios de subsistência, a mobilidade climática pode apoiar a transição verde e o desenvolvimento resiliente às alterações climáticas.

Para os SIDS, estas são questões que suscitam grande preocupação e sublinham a necessidade urgente de uma ação internacional para atenuar as emissões de gases com efeito de estufa e apoiar medidas de adaptação. Apelamos à disponibilização de recursos para criar resiliência e enfrentar os desafios que não podemos ignorar nem adiar.

Obrigado pela vossa atenção.