DISCURSO DE O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, DR. JORGE CARLOS DE ALMEIDA FONSECA POR OCASIÃO DA CERIMÓNIA DE ENTREGA DE PRÉMIOS JORNALISMO

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SEDE DE AJOC, PLATEAU 31 DE MAIO DE 2019

Minhas Senhoras e Meus Senhores,
Presidir uma cerimónia de entrega de prémios de jornalismo – do jornalismo cabo-verdiano, do nosso jornalismo – constitui um motivo de alegria e satisfação particulares. Este acto, por muito singelo que possa parecer, representa um momento importante e central na própria democracia do nosso país. Porque o jornalismo, quando autêntico, é sinónimo de liberdade e só pode ser exercido plenamente em democracia, por e para todos os cidadãos. Os prémios que irão ser entregues daqui a pouco são o reconhecimento do empenho, da competência e do profissionalismo de jornalistas da Imprensa, Rádio e Televisão, jornalistas da nossa praça. Prémios esses atribuídos pela AJOC, através dos seus dirigentes, no cumprimento das nobres funções para que foram eleitos pelos seus pares, e pelo júri, constituído por pessoas idóneas e com experiência comprovada na matéria.

palavra em especial para a AJOC e para aquilo que esta associação representa para os seus associados, para o jornalismo cabo-verdiano, e para o país, de uma maneira geral: um órgão que procura ser a voz da consciência deste sector, persistente na busca de soluções e de respostas para os problemas que se colocam à profissão. No fundo, a razão da sua existência, e que é a também a causa do jornalismo cabo-verdiano.
Minhas Senhoras e Meus Senhores,

nunca fui jornalista e nem tenho sangue ou a pulsão do repórter. Mas tive uma vida também pelos jornais, como sabem, durante largos anos. Conheço esse mundo por dentro, o cheiro da tinta, da composição dos caracteres, da impressão, da folha do jornal acabado de sair, o ambiente das redacções de outros tempos. A informação chega-nos, hoje, por outros meios, chega mais rápida e a muito mais gente, com todo o impacto e consequências que isso tem na nossa sociedade; uma sociedade cada vez mais exigente e escrutinadora, mais bem informada, que os senhores jornalistas, aqui presentes, conhecem tão bem. E hoje, mais do que nunca, sabemos como é preciso ter coragem e espírito de resiliência para insistir num jornalismo ainda norteado pela ética e por valores tradicionais desta nobre profissão.

Os prémios a atribuir vão para o talento, o profissionalismo, a abnegação e a paixão com que os premiados realizaram os seus trabalhos, e que, no fundo, não são mais do que os ingredientes que compõem aquilo a que chamamos jornalismo, em qualquer parte do mundo. Em todos estes profissionais esteve presente a preocupação social, o compromisso com os anseios da comunidade e da sociedade cabo-verdiana, em geral, nem sempre com boas notícias, é verdade. A atribuição de prémios como este é fundamental não só para os distinguidos, mas também para toda a classe, num momento, como todos sabemos, em que o jornalismo passa por modificações e adaptações importantes. Mas, podemos perguntar: qual é o maior prémio que se pode dar a qualquer jornalista? Talvez sejam a oportunidade e as condições mínimas para ele ou ela continuarem a desempenhar o seu trabalho; talvez seja o reconhecimento, o respeito devido que ele ou ela merecem pelo seu trabalho.

Minhas Senhoras e Meus Senhores,
Para nós, cidadãos, é um privilégio poder contar com trabalhos desta natureza, estes, agora premiados, mas igualmente outros que, como sabemos, são realizados, todos os dias, em vários pontos do país. Um trabalho feito por profissionais atentos e activos, na linha da frente, que mede e nos traz o pulsar do país, e que deve ser reconhecido como indispensável, apesar do seu carácter efémero. Mas, como todos os arautos das mudanças, como todos os mensageiros de factos e acontecimentos, os jornalistas, por vezes, também se tornam nas primeiras vítimas do seu próprio trabalho, mormente em países ainda em busca da sua massa crítica, e onde o espaço público é reduzido e pressão atropela-os, a cada instante.
A palavra livre é um direito e um bem supremo, responsável pela busca e transmissão da verdade e não de meias-verdades (como, por vezes, alguns desejariam), de que o cidadão – homens e mulheres deste país – anseiam e precisam. Mas, por seu turno, essa palavra deve evitar a informalidade, ir a reboque da banalidade e da ligeireza, do vale-tudo, e procurar manter-se fiel e seguidora do espírito da ética, o farol último do seu objecto preconizado.

Mas hoje estamos aqui para premiar histórias e os seus autores, porque, apesar de tudo, de todas as evoluções técnicas, o jornalismo continua a ser a arte de contar histórias; histórias verídicas, desencravadas dos nossos rincões, vales, cidades e achadas, colhidas juntos de homens e mulheres, pessoas comuns, muitas vezes anónimas e invisíveis, os seus protagonistas principais.
Assim, só me resta renovar os votos da continuação de bom trabalho, e que mantenham os espíritos abertos, o olhar atento e sensível, pois é através dele, do vosso labor, dos vossos protagonistas, na dor e na alegria, que a verdadeira história desta nação é feita. Contar, informar, divulgar, sob a égide de um ideal de serviço público, sem querer ser juízes, mas irmanados no compromisso de construir um Cabo Verde cada vez livre e mais justo.
Com prémios e sem prémios.
Muito obrigado a todos!