Bom dia, permitam-me cumprimentar o Sr. Ministro do Mar, o Sr. Ministro da Agricultura e Ambiente, o Sr. Presidente da ACLIM e todos os membros da rede, o Sr. Embaixador do Luxemburgo, o Sr. Representante do PNUD, o Sr. Embaixador de São Tomé, o Sr. Representante da União Europeia, todos os representantes dos organismos internacionais aqui presentes e cumprimentar todos os presentes, os convidados.
Na verdade, a nossa maior riqueza é o mar. Temos definitivamente de voltarmos para o mar, porque o futuro de Cabo Verde está no mar.
Nós temos aqui o nosso mar e eu estudei em São Paulo e quando nós nos encontrávamos e em vez de perguntarmos ao outro se estava bem, perguntávamos “tudo azul“. E tudo azul era “tudo bem”. E nós temos efetivamente de fazer com que Cabo Verde continue a ser estas ilhas azuis do Atlântico.
Vejam, no mar nós podemos produzir água e estamos a produzir água. Muita da água que nós consumimos é a partir da dessalinização da água do mar. E neste momento o governo de Cabo Verde está a trabalhar para que a água do mar sirva para o desenvolvimento da agricultura. Então, a produção de água para Cabo Verde é vital e nós podemos produzir água a partir do mar.
Mas também no mar nós podemos ter alimentos através da pesca. Podemos transformar, desenvolver indústrias ligadas ao mar, não só indústria alimentar, a transformação do pescado. Vocês já têm algumas empresas em Cabo Verde desde há muitos anos e mais recentemente empresas que fazem a transformação do pescado. Temos também toda a área das pescas que nós precisamos continuar a desenvolver. E nós podemos também desenvolver toda a nossa indústria em outros setores.
Por exemplo a indústria farmacêutica a partir do mar. Há dias eu vi uma reportagem num dos jornais sobre as mulheres de Moia-Moia que estão a apanhar algas no mar a transformar em adubos para a agricultura. Mas nós podemos, com as algas e outros produtos marinhos, produzir medicamentos. A indústria farmacêutica a partir do mar.
Mas vejam, nós somos dez ilhas. O mar é a ponte que nos liga a todas as ilhas. Os transportes marinhos. Nós só podemos desenvolver Cabo Verde se conseguirmos fazer essa integração a partir do mar desenvolvendo os transportes marinhos. Mas também o turismo que é uma grande riqueza de Cabo Verde está no mar, etc., etc.
Então temos de proteger o nosso mar e uma das formas é proteger a biodiversidade, mas também é proteger para que não haja poluição. E falou-se aqui do plástico. O psicólogo Jacob Vicente falou aqui das fresquinhas. Mas Jacó, quando eu ia para a escola a fresquinha não vinha num saco de plástico. Havia uma forma onde se colocava a fresquinha. Depois usava-se o palito para apanhar a fresquinha e comer sem plástico. Até era muito mais gostoso a fresquinha que era produzida antigamente. Então voltemos, retomemos essas boas práticas.
Eu saúdo o governo pelo facto de aprovar essa nova lei relativamente aos plásticos. Mas também antigamente não havia uso intensivo de plástico como nós usamos hoje, e tínhamos muito melhor qualidade de vida.
Então desde as escolas, nas famílias, nas nossas indústrias, etc., poderemos retomar um conjunto de boas práticas que nós tínhamos e eliminar gradualmente o plástico das nossas vidas para evitar a poluição marinha, para evitar a destruição desta nossa grande riqueza que é o mar. Então, eu queria felicitar também a ACLIM e todas as organizações não governamentais que têm trabalhado no domínio da proteção ambiental, particularmente no domínio do mar.
E dizer que é fundamental essa parceria entre o Ministério do Mar, o Ministério do Ambiente e essas organizações não governamentais. Podemos ter ganhos em termos de complementaridade, em termos de subsidiariedade que são essenciais para o futuro de Cabo Verde.
E eu gostaria também de chamar as escolas, as famílias à atenção para essa problemática. Temos de prestar atenção ao nosso mar. Temos de continuar a ser esse país azul. Então temos de formar, de garantir o engajamento cívico das pessoas desde crianças. Nós sabemos a diferença entre as crianças que nas escolas têm uma educação ambiental e outras crianças que não têm essa mesma educação. Então trabalhemos para garantir uma boa educação ambiental às nossas crianças, aos nossos adolescentes, aos jovens. Continuemos a apoiar o trabalho que as ONGs estão a fazer em parceria com o governo para que possamos ganhar o futuro.
Vejam, até ao início do século XXI, na estrutura do governo não havia Ministério do Mar. Hoje temos o Ministério do Mar. Temos um Ministério voltado para o desenvolvimento de Cabo Verde a partir de uma gestão sustentável dos recursos marinhos.
É isso que nós temos que fazer. E termino dizendo-vos que, a nível do mundo, há uma grande preocupação em relação ao mar. Nós estamos na década do oceano, de 2021 a 2030.
E Cabo Verde faz parte da aliança da década do oceano. Então temos que trabalhar mais para aumentar a literacia marítima com o apoio da Unesco, com o apoio de todo o sistema das Nações Unidas, com o apoio da União Europeia, trabalharmos para protegermos o nosso mar. E termino mesmo agradecendo a Luxemburgo por este apoio.
Luxemburgo tem sido, como disse o Sr. Ministro do Mar, um grande amigo de Cabo Verde. E eu, quando fui a Luxemburgo pela primeira vez, enquanto primeiro-ministro, falaram-me do mar e de um conjunto de ações ligadas à economia marítima. Mas eu perguntei, mas vocês não têm mar.
Porquê que vocês desenvolvem todas essas atividades? É claro que para haver desenvolvimento temos que ter uma cultura de desenvolvimento. Muitas vezes falamos de desenvolvimento, mas não passamos de discurso. E uma cultura é um conjunto de normas, de regras, de instituições, de hábitos mentais, de atitudes, de comportamentos voltados para o desenvolvimento.
Então muitas vezes nós temos ideias e ficamos sem saber porquê que elas não conseguem prosperar. Precisamente porque ainda não temos uma cultura voltada para durabilidade e desenvolvimento. E junto com Luxemburgo nós fomos criando.
Porque eu, quando vi que Luxemburgo tinha uma economia marítima, disse-me, paciência, Cabo Verde, tem que andar mais depressa. Também tem que trabalhar a questão da economia marítima. E na estruturação do governo, em 2006, aí sim criamos o Ministério de Infraestruturas e Transportes em Mar.
Precisamente para também começarmos a dar mais atenção, não porque não se dava antes ao mar, mas eram ações mais dispersas. Então obrigado Luxemburgo por tudo, pelo apoio às ONGs, ao governo de Cabo Verde, mas também pela inspiração para trabalharmos para o desenvolvimento do nosso mar. As minhas felicitações ao ACLIM.
Temos de amar sim o mar. E, aliás, viver em Cabo Verde só com muito amor, não é? E eu nunca deixo de contar isso e permitam só contar essa parte para terminar. Uma vez um amigo meu do Brasil, ele agora é professor lá da Universidade de São Paulo, ele veio a Cabo Verde passar as férias comigo.
Era mês de maio, Cabo Verde estava completamente seco, nesse ano não tinha chovido e fomos ao Tarafal pelo interior, via Santa Catarina, para mostrar a minha terra. Almoçámos no Tarafal e regressámos via litoral. De longe vimos uma jovem, uma moça com uma lata de água à cabeça e um rapaz, presumivelmente um casal de namorados.
E então já estavam lá, estávamos a vir de longe, já estavam lá parados e quando chegámos perto ele perguntou-me o que é que essa menina tem à cabeça. E eu disse, acho que é uma lata de água. E a menina estava toda suada.
E ele disse, e o rapaz? Eu disse, ó rapaz, deve ser o namorado dele. E estavam lá a conversar, há muito tempo a conversar, a menina toda suada com uma lata de água à cabeça e ele foi me dizendo desde a praia, mas do que é que os cabrodeanos vivem nesse país seco, sem água, sem nada? Vocês são uns autênticos heróis. Eu disse, sim, vamos sobrevivendo no meio do Atlântico.
E quando ele viu o casal, ele passou, pensou um pouquinho e disse, mas é Maria, aqui em Cabo Verde, até para amar é preciso sofrer. E eu disse, estás a ver, portanto aqui temos que amar tudo. É preciso muito amor para ficar lá de pé com uma lata de água à cabeça a falar com o namorado.
Então amemos Cabo Verde, amemos o nosso mar para o nosso bem. Para que no futuro possamos estar tudo azul.
Obrigado.