30 de maio de 2025 – Centro de Convenções da Universidade de Cabo Verde – Cidade da Praia
Ilustres Convidados,
Minhas Senhoras e meus Senhores,
Quero, em primeiro lugar, saudar e felicitar as promotoras deste importante evento, pelo arrojo, pela visão estratégica e pelo empenho demonstrado na criação de um espaço de reflexão e mobilização em torno de uma das questões mais estruturantes do nosso tempo: a participação plena e equitativa das mulheres no processo de desenvolvimento.
Ao aceitar integrar a Comissão de Honra deste Fórum, e ao dirigir-me a todas e todos vós, nesta ocasião singular, que marca a realização desta oportuna iniciativa, relevante e transformadora, reitero o apoio e o reconhecimento da Presidência da República à causa da igualdade e equidade de género, enquanto pilar essencial do progresso democrático, da justiça social e da sustentabilidade do desenvolvimento.
Aproveito o ensejo para destacar a ousadia das promotoras desta coalizão virtuosa, cuja força reside na abrangência e diversidade das vozes envolvidas — das oradoras às participantes; dos temas aos objetivos; das mulheres do país e da diáspora às representantes de outras nacionalidades e de diferentes estratos políticos e socioeconómicos. Saliento ainda a representatividade de instituições como ONGs, corpo diplomático, organismos internacionais, associações comunitárias, entidades políticas, ordens profissionais e empresas.
Este ano, Cabo Verde celebra com orgulho os 50 anos da sua independência. Meio século de caminhada, de conquistas extraordinárias, de lutas e de aprendizagens que consolidaram os nossos valores enquanto Nação soberana, democrática e em constante construção. A estabilidade política e social tem sido um grande aliado nestes anos de resiliência e de vitórias.
A celebração deste cinquentenário não seria completa sem um olhar atento, crítico e inspirador sobre o papel da mulher na sociedade cabo-verdiana e no mundo globalizado. Neste percurso, as mulheres cabo-verdianas estiveram – e continuam a estar – no centro da história: como guardiãs da cultura, educadoras de gerações, líderes comunitárias, profissionais de excelência, ativistas incansáveis e parceiras indispensáveis na edificação do país.
Antes da independência, as mulheres cabo-verdianas enfrentaram adversidades extremas: pobreza aguda, elevada mortalidade materna e infantil, escassos recursos económicos, maior incidência de analfabetismo e desigualdades de género profundamente enraizadas. Ainda assim, resistiram com coragem, foram educadoras, provedoras e, lado a lado com os homens, estiveram na linha da frente da luta pela nossa liberdade.
Sem esmorecer com as débeis condições de partida, e graças a um grande djunta mon entre o governo, os organismos internacionais e as nascentes organizações da sociedade civil, foi possível reduzir a pobreza, ampliar o acesso à educação e melhorar os serviços de saúde. Nesta caminhada memorável, as mulheres foram protagonistas e destinatárias. Congratulo-me, por isso, com o reconhecimento simbólico do seu legado neste Fórum, através de uma justa e merecida homenagem.
Porém, os desafios persistem: barreiras estruturais nas esferas do poder, da economia e do trabalho; jornadas múltiplas; formas subtis e explícitas de discriminação e violência ainda afetam muitas meninas e mulheres. Em muitos casos, o talento e a competência femininos continuam subvalorizados e sub-remunerados.
São essas lacunas que devem ser supridas. Este Fórum, com o seu lema “Mais Participação, Melhor Futuro”, coloca-nos diante de uma interrogação vital: como podemos, juntos, remover barreiras e ampliar oportunidades para que nenhuma mulher fique para trás? A inclusão e a igualdade de género são questões incontornáveis. Muitas leis — incluindo as relativas às quotas — já foram aprovadas. Mas, infelizmente, ainda não se revelaram suficientes.
Urge, igualmente, empoderar as jovens raparigas, dotando-as de ferramentas para sonhar mais alto, liderar com audácia e inovar com confiança. Elas são o futuro imediato e merecem um presente com oportunidades reais.
Num mundo crescentemente moldado pela inovação, é imperativo garantir às mulheres o acesso pleno às oportunidades da transição digital, da economia verde e dos saberes do futuro, sob pena de as novas desigualdades agravarem ainda mais as anteriores.
A resposta começa por reconhecer que a igualdade de género não é um favor, nem uma concessão — é um imperativo do desenvolvimento justo e sustentável. Um país que limita o potencial das suas mulheres está, inevitavelmente, a limitar o seu próprio futuro. Como nos recorda um sábio provérbio africano: “Se educares um homem, educas um indivíduo; se educares uma mulher, educas uma nação.”
Este Fórum é uma oportunidade histórica para reafirmarmos que o futuro de Cabo Verde será tão promissor quanto for inclusivo. E que uma Nação só pode ser verdadeiramente livre, quando todas as suas cidadãs e todos os seus cidadãos forem igualmente livres para sonhar, para decidir, para liderar e para transformar.
Apesar da nossa posição relativamente confortável a nível internacional, não podemos abrandar os esforços. A luta das mulheres é secular e cada conquista em matéria de educação, saúde, direitos e participação política deve ser celebrada. Se continuarmos ao ritmo atual, só atingiremos a paridade global dentro de 130 anos — um horizonte que devemos encurtar com urgência.
Convoco, portanto, cada participante deste Fórum a assumir um compromisso pessoal e coletivo na construção de uma realidade em que a igualdade de género seja uma conquista inegociável. Que o debate que hoje se inicia se traduza em ações concretas, duradouras e transformadoras — capazes de reverter décadas de exclusão e de abrir caminho a uma nova era, em que a voz das mulheres seja ouvida, valorizada e plenamente integrada em todos os processos de decisão.
Importa também reconhecer os homens que, conscientes do valor da equidade, se afirmam como aliados comprometidos com a causa da igualdade, contribuindo ativamente para a sua concretização.
Por isso, este Fórum é mais do que um evento: é um sinal de maturidade democrática, um exercício de cidadania global e um apelo à ação coletiva. É de louvar que esta iniciativa tenha conseguido mobilizar governo, sociedade civil, setor privado e comunidades locais em torno de uma visão comum.
Cabo Verde orgulha-se de ser uma Nação de pontes — entre continentes, entre culturas, entre ilhas e entre povos. Hoje, somos também chamados a ser uma ponte entre a igualdade formal e a igualdade real. Isso exige: políticas públicas mais inclusivas, maior responsabilização institucional e um compromisso profundo da sociedade civil, das famílias e, sobretudo, das lideranças.
Impregnado deste espírito, quero deixar três palavras-chaves que considero fundamentais para o êxito desta jornada: Reconhecer. Valorizar. Transformar.
Reconhecer o contributo das mulheres em todas as dimensões da vida social.
Valorizar esse contributo com justiça, com respeito e com equidade.
Transformar os espaços de decisão, os modelos de desenvolvimento e as mentalidades, para que a igualdade de género seja uma realidade palpável, mensurável e irreversível.
Desejo, pois, os maiores êxitos a este Fórum. Que daqui surjam ideias arrojadas, alianças sólidas e compromissos exequíveis, capazes de gerar impacto real na vida das mulheres e raparigas de Cabo Verde e da nossa diáspora.
Cabo Verde tem agora a oportunidade de liderar pelo exemplo: não apenas no cumprimento das metas globais, mas na construção de uma sociedade em que as mulheres tenham lugar à mesa onde se tomam decisões.
Muito obrigado pela vossa atenção!