Discurso da Primeira-dama, Lígia Dias Fonseca na Abertura do IIº Salão de Empreendedorismo Feminino

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Minhas Senhoras e meus Senhores,
É me sempre agradável, em espaços como este, falar com homens e mulheres que comungam os valores da liberdade, da paz e da dignidade humana e que estão dispostos a contribuir para a mudança social que se impõe para eliminar barreiras que vêm comprometendo o processo de desenvolvimento do nosso País. 
E esta satisfação é ainda maior quando a plateia é composta por cidadãs que, no dia-a-dia redobram de esforços e de criatividade para conciliarem o papel da esposa, da mãe e da empresária numa sociedade relutante em valorar adequadamente o papel e o contributo da mulher na promoção do empresariado nacional e na salvaguarda da família, alicerce da sociedade, mas também da economia.


No mundo tão conturbado e contraditório em que vivemos, onde a hegemonia masculina, que ainda se estende por todo o planeta, tem-nos conduzido por caminhos perigosos em termos de relações entre países, de relações com a natureza, fazendo perigar, a prazo, a nossa própria sobrevivência, nós, Mulheres, com a nossa maneira própria de pensar, de equacionar os problemas, de buscar as soluções, representamos uma das últimas esperanças da humanidade.
E não falo de uma tomada de posição no futuro, a não ser se se considerar que o futuro começa hoje, ou mais propriamente se atentarmos para o facto de que, em boa verdade, este futuro já se iniciou, enquanto entrega, enquanto busca de uma vida melhor, enquanto luta por vezes com contornos contraditórios, por um lugar no mundo que vá para muito além da condição de musa inspiradora.
 
Caras amigas,
Não obstante reconhecermos que têm existido progressos na relação de género no nosso país, designadamente por força de políticas deliberadamente formuladas e executadas com esse objetivo, com impacto positivo, na esfera educativa, da saúde reprodutiva, da saúde materno-infantil, entre outras, confesso que tenho, ainda, alguma dificuldade em falar de avanços em termos de relações de género, pois a sensação que experimento é a de que estaríamos num determinado patamar até certo ponto natural e agora encontramo-nos  num outro, mais interessante.
A minha dificuldade radica no facto de ter de aceitar uma perspectiva evolutiva, por natureza lenta, perante uma realidade que deveria ter uma solução radical, imediata, irreversível. É evidente que os processos sócio-culturais não podem ser apreendidos e equacionados numa óptica voluntarista; mas devemos, igualmente, precavermo-nos s contra a tendência para nos comprazermos com limitados avanços reais justificados por dificuldades que ainda subsistem.
Com esta observação pretendemos alertar para a necessidade de se evitar a postura de esperar sentado,  que as medidas legislativas por si só resolvam a complexa questão da relação género no nosso país. Aliás, a posição de instituições com particular responsabilidade nessa matéria, como o Instituto Cabo-verdiano para a Igualdade e a Equidade do Género (ICIEG) é muito clara, isto é, ao mesmo tempo que se saúdam as medidas globais que repercutem positivamente nas relações de género, são propostas  intervenções especificas que visem  combater as desigualdades existentes  pelas vias da investigação, assistência e capacitação dos vários intervenientes na matéria.
Naturalmente que não posso deixar de, aqui e agora, enaltecer a luta que diariamente muitas mulheres, ao lado dos homens, vêm desenvolvendo para que a que igualdade, consagrada na Constituição e nas demais leis, extravase, em permanência, as páginas desses importantes institutos e impregnem o quotidiano de cada um.
Neste contexto, gostava de destacar o papel crucial que várias organizações e/ou associações têm assumido na realização de iniciativas de capacitação e desenvolvimento pessoal, no estreitar de colaborações com o mundo corporativo e com o académico e também no estímulo à criação de redes de relacionamento (o tão falado networking). Este último ponto é extremamente relevante e é efetivamente uma ferramenta que tem de ser “trabalhada” de forma continuada e consistente. Não basta “aparecer” nos eventos – é preciso pensar no pré, durante e pós evento! Participar com um objetivo em mente e com a devida preparação. Exige pensamento crítico, inteligência emocional e planeamento.
Felicito, pois,  a Capital Humano e a  Cheetah Start as promotoras deste II Salão de Empreendedorismo Feminino, uma alavancas para o sucesso profissional das mulheres, enfatizando também a conciliação com a sua vida pessoal (e social).

Tenho tido a oportunidade de conhecer e trabalhar com outras iniciativas para o empoderamento das mulheres como, por exemplo, a Womanaise , a rede das mulheres empresárias de África, bem como com as associações cabo-verdianas que promovem a defesa dos direitos das mulheres, sua capacitação e criação de melhores condições de participação política. Todas estas organizações através de programas de mentoring, liderança, empreendedorismo e outros muito específicos, cada uma com o seu posicionamento específico, contribuem para melhorar a situação da Mulher e para a criação de uma sociedade mais justa. Todas merecem o nosso respeito pelo trabalho que desenvolvem. É preciso perceber que a verdadeira riqueza destas estruturas é o somatório de interações que se promove entre mulheres reais, da sua diversidade, das suas histórias de vida e experiências. Tornando acessíveis casos de sucesso, partilhando dificuldades e insucessos, fazendo perceber o que é isso da liderança e do empreendedorismo no feminino.

Minhas amigas,
A união é o instrumento mais poderoso que temos. Não é por acaso que um grande número de mulheres entre nós está a aderir ao movimento « Elas por elas» «She4she», dinamizando, entre outras, pela nossa escritora Natacha Magalhães.
De facto, temos de nos reconhecermos, umas nas outras, nas nossas sensibilidades e forças a fim de construir referências cada vez mais sólidas de como sobreviver a tantas agruras que a condição de Mulher faz , ainda recair sobre nós, mas, mais do que isso, a desbravar os caminhos para vivermos livremente e com toda a dignidade o ser MULHER.
Por isso, não neguemos a nossa força de ajuda mútua, não deixemos que enfraqueçam a nossa união dizendo que a amizade entre mulheres não existe. Ela é viva, real e cheia de defeitos como qualquer outra, mas necessária para que possamos fortalecer e enfrentar os desafios que concernem ao nosso existir. Não duvidem da força da rede das mulheres que lutam por ideais.

Minhas Senhoras e meus Senhores,
Estando nós hoje, neste local a reflectir sobre o Empreendedorismo Feminino, aproveito para fazer um apelo para urgência de se pôr de pé um sistema de valorização da mulher enquanto agente económico, enquadrada ou autónoma.
Penso em uma Fiscalidadeinteligente, que seja capaz de estimular o investimento das mulheres. Não um regime de favor, mas uma interpretação inteligente e ousada do papel da mulher na economia.
Mais do que um tratamento de favor dispensado à mulher, penso numa atitude fiscal que estimule o investimento das mulheres e, principalmente, o reinvestimento dos lucros obtidos nos seus negócios.
Enfim, uma fiscalidade que remunere condignamente o adiamento do consumo e premeie o lucro reinvestido, em detrimento do alto consumismo e do lucro ocioso.
Penso, outrossim, numa discriminação positiva em relação a mulheres que se assumam como independentes, pois não podemos ignorar as vantagens das suas actividades, tanto pela redução da pressão sobre o mercado de trabalho em que isso se traduz, como pela ampla probabilidade de melhoria do rendimento familiar que isso pode significar. No fundo, é ter de tratar diferente o que é diferente, estimulando a economia por essa via.
Exigir-se-ia, também, um esforço extra no sentido da “formalização” de profissionais independentes ou do sector informal da economia. Tudo fazer para que as mulheres que se encontram na informalidade tenham um caminho aberto para a sua “formalização”, i.e., para que possam exercer o seu métier dentro das balizas regulamentares. Isso exigiria da Administração e de toda a sociedade civil um trabalho de esclarecimento em relação às vantagens de se trabalhar com todas as licenças em dia.
Infelizmente, e não obstante os esforços que têm sido feitos, actualmente, aquilo a que chamo a “formalização” das autónomas continua a ser encarado pelas visadas apenas como mais um esquema do fisco para lhes sacar mais impostos. É preciso desmistificar a situação e falar-lhes, também, das vantagens da nova situação – acesso a linhas de crédito, negócios “normais” com a banca, direito de se associarem e de reclamar, assente em bases jurídicas, etc.

Mas outras medidas se impõem. Por exemplo, à semelhança do que se tem feito com os jovens, faria todo o sentido a instalação de incubadoras de empresas para jovens empresárias e a criação de uma unidade de capital de risco para apoio a iniciativas empresariais femininas. É que falar de igualdade quando se está em patamares diferenciados não é muito sério. Prefiro que se pense em equidade. Se se está em patamares desnivelados e todos querem um lugar ao Sol, só faz sentido a equidade, i.e., a disponibilização de diferenciais capazes de permitir que todos acedam à luz solar. Disponibilizarem-me o mesmo que a um indivíduo que está a um degrau de ver a luz, fazendo com ele veja a luz enquanto eu permaneço no limbo? Dispenso sem rebuço. Prefiro e exijo que o diferencial seja algo capaz de me permitir usufruir das mesmas oportunidades. Creio que é isso que distingue equidade de igualdade. E é isso que se exige.
Finalmente, quero me referir à necessidade de investir na formação das jovens empreendedoras em gestão de negócios.

As Mulheres Empresárias aqui presentes sabem melhor do que ninguém que o mundo dos negócios é exigente. Achar que um negócio é interessante ou chique não pode ser decisivo para a abertura de um negócio. O negócio que abraçamos não é o interessante ou o chique, mas o viável. Ser capaz de equacionar a viabilidade de um negócio, definir um plano de negócios, estabelecer a diferença vital que existe entre produto e solução (que o cliente de hoje, exigente como só ele, quer soluções para o seu problema e não mero produto), garantir a qualidade do que se oferece e a satisfação do cliente, são desafios a mais para que alguém se meta a improvisar apenas. É preciso aprender a arte da gestão. E há que investir nisso.
Estimadas,
Liderar e empreender no feminino é mais do que criar e gerir empresas, é mais do que garantir um emprego próprio. É a lidar diariamente com um imenso número de solicitações, é gerir desafios com recursos limitados, num tempo diário limitado! É, na maior parte das vezes, para não dizer sempre, encontrar a forma de conciliar a vida profissional com a pessoal, familiar  e social.
Mas como fazer isso? Será uma arte? Será uma ciência? Ou nada mais é do que a prática. Através da criatividade e fazendo recurso a outras soft skills: a orientação para objetivos e resultados, a capacidade de resolução de problemas de forma criativa e inovadora, a autoconfiança, o espírito de iniciativa, a influência e a resiliência, cada mulher vai descobrindo a sua forma de conciliar a sua esfera profissional com a sua vida familiar e social.
Outro elemento importante no sucesso do empreendorismo feminino é o poder da comunicação: o que se diz (conteúdo) e como se diz (assertividade).
Mas, todos estes aspectos e outros serão , tenho a certeza, objeto de partilha, discussão e recomendacões entre as participantes deste IIº Salão de Empreendedorismo feminino, pelo que declaro aberta as actividades e desejo a todas e a todos os maiores sucessos.