Nota de Pesar de Sua Excelência o Presidente da República pelo falecimento do poeta Teobaldo Virgínio
A cultura cabo-verdiana, em especial a literatura, fica mais pobre com o desaparecimento físico do poeta e romancista Teobaldo Virgínio, figura que encarnava o modelo do intelectual cabo-verdiano do seu tempo: homem viajado, conhecedor do mundo, escritor e amante do seu torrão natal. A situação e os problemas da sua terra-mãe foram uma constante preocupação para este escritor santantonense, na esteira de outros, como Manuel Lopes ou o seu irmão Luís Romano. Em São Vicente, São Nicolau, Angola e nos Estados Unidos, onde viveu ultimamente, Teobaldo Virgínio manteve-se sempre atento aos destinos das suas ilhas, colocando nos seus livros histórias da emigração, páginas do quotidiano dos seus conterrâneos, que haveriam de influenciar novas gerações de escritores.
Na prosa ou na poesia, o olhar atento e interessado de Teobaldo resultava na abordagem de temas sociais e políticos, trazendo pedaços de vida das ilhas, em forma de arte, numa cumplicidade com os destinos das suas personagens, construídas com emoção e guiadas pelo longo braço da esperança. Ainda quando dramática chamava à seara vermelha desventrada. Com a sua morte, perde-se um poeta e romancista, mas sobretudo um grande comunicador, na esteira de outros intelectuais que ajudaram a compreender os destinos dos homens e mulheres de Cabo Verde, engrandecendo a sua cultura, no reforço do seu amor pela terra-mãe.
Vai-se o poeta, com a sua saudade – na saudade de lembrar (que é dos meninos que andavam a brincar?) – e pena de não poder regressar, mas fica-nos a obra e a sua voz fresca e o olhar apaixonado pelas letras, cujo brilho cintilou, menino, até aos últimos dias da sua provecta idade. Mesmo não tendo regressado fisicamente, Cabo Verde nunca saiu de Teobaldo Virgínio. E o poeta nunca deixou as suas ilhas.
A toda a família enlutada endereço as minhas mais sentidas condolências.
Jorge Carlos de Almeida Fonseca