Neste dia 5 de Maio, que é o do Dia Mundial da Língua Portuguesa, em que as atenções se centram neste idioma em que comunicamos, sou levado a pensar como há línguas orientadas e formadas por e a partir de determinadas geografias.
Tendo nascido, como é sabido, do galaico-português na Idade Média, logo cedo a nossa língua ficou marcada pela sua progressão rumo ao sul. Estendeu-se e acompanhou o povoamento mais intenso dessa parte ocidental da Península Ibérica e depois ganhou o mar. Há línguas que são forjadas na interioridade e assim se conservam, como parte do âmago dos maciços dos continentes e das civilizações que por entre essas veredas nascem.
A língua portuguesa é uma língua viajante. Andarilha. Dessa pequena interioridade inicial, ela expandiu-se e ganhou horizontes claros e abertos. Fez-se mar, ilhéu e continental tropical. Nomeou cabos e rios, cutelos e achadas, lagos e lagoas, calhetas e tapadas. Ligou povos, culturas e civilizações, cruzou oceanos, numa fala contínua de valores, sonoridades e ambição.
Com ela construímos quotidianos e paixões, sonhos de liberdade e esperança. Ao seu sabor, fomos chegando a esta Comunidade, que tem como primordial a sua cultura e os laços comuns, históricos e fraternais. A língua portuguesa ganhou matizes na sua prática diária, enrolada e pronunciada por dezenas de milhões de pessoas, em todas as profissões e latitudes. Foi assim ao longo de séculos, nesse caldo de formação, e é também agora, neste mundo digital, que nos rodeia.
O facto de ser a quinta ou a sexta língua mais utilizada na internet permite-nos chegar talvez mais longe do que alguma vez sonhámos. Abre-nos a porta para um maior conhecimento e potencia ainda mais as possibilidades de crescimento económico, aumento do espaço político e afirmação cultural. A diversidade de povos e culturas que utilizam este idioma funciona como grande poder atractivo para estudantes e empresários, entre outros, de várias partes do mundo. Ela é o maior garante da perenidade das nossas culturas, aquelas que se manifestam e se exprimem em português.
E a criação de um Dia Internacional da Língua Portuguesa deve servir para a sua promoção, divulgação e ensino, em redes de escolas, universidades e leitorados, espalhados pelo mundo. A música e, sobretudo, a literatura são a forma por excelência da sua disseminação a nível mundial, desde os seus falantes naturais, como para aqueles que a querem aprender. Mas também noutras artes e na ciência, na investigação, na criação do conhecimento.
Estou convencido de que a esta língua feita e enriquecida em tons do sul, de sabores do sul, paisagens do sul – do sul da Europa ao sul do Planeta – está reservado um futuro promissor, uma via de sucesso, na sua riqueza e diversidade – nas várias línguas portuguesas e sotaques que existem nela.
Ela é o maior legado que podemos deixar às gerações vindouras, e só ela saberá encontrar a melhor forma para a sua renovação e expansão.