Cidade Velha, Ribeira Grande de Santiago,
Aos 17 de abril de 2025
Bom dia, Sr. Presidente da Câmara Municipal de Ribeira Grande de Santiago, Sra. Presidente do Instituto do Património Cultural, Sra. Embaixadora da Espanha em Cabo Verde, Prof. Dr. António Correia e Silva, todos os eleitos locais, todas as presentes e todos os presentes, sintam-se cumprimentados, e todo o protocolo observado.
Estou aqui precisamente para prestigiar e dar o devido valor a iniciativas desta envergadura. Ribeira Grande de Santiago teve um papel crucial na história de Cabo Verde, da África e do mundo. E é preciso conhecermos bem este passado para podermos projetar o futuro que queremos.
Iniciativas desta natureza dão-nos as luzes sobre a história de Cabo Verde, sobre a construção da nação cabo-verdiana e sobre o seu papel no mundo. A passagem por Ribeira Grande, no século XVI, na primeira metade do século XVI, de Sebastián de Elcano, mostra-nos a importância da Ribeira Grande de Santiago nesse momento em que as relações económicas e políticas mundiais estavam a crescer. E, por isso, é importante conhecermos a geopolítica mundial, a geoeconomia mundial dessa altura, para podermos ter um conhecimento aprofundado do papel de Cabo Verde e da importância da sua localização geoestratégica.
Neste momento, primeira metade do século XXI, o mundo está em ebulição. Está a emergir uma nova ordem económica. As guerras comerciais em curso estão a redesenhar as relações económicas e comerciais entre diferentes regiões do mundo.
E temos de poder analisar qual o papel de Cabo Verde. Que estratégias Cabo Verde poderá utilizar para continuar a inserir-se de forma competitiva no mundo. Esta nova ordem em formação poderá levar a uma desvalorização geoestratégica dos pequenos Estados.
E, então, é importante termos a capacidade, a inteligência para analisar as diferentes estratégias que estão em curso neste momento e que vão levar a uma reconfiguração, não só das relações económicas e comerciais internacionais, mas também a uma nova ordem mundial. Se no século XVI, Cabo Verde teve um papel importante, tendo em conta as estratégias das grandes potências de navegação europeias da altura, hoje, que o mundo tem novos contornos, há novos contextos, há novas estratégias, temos de poder perscrutar estas circunstâncias e definir uma estratégia para Cabo Verde, para continuarmos a ser um país útil no mundo e continuarmos a ser um ponto de encontro.
Continuarmos a ser um país-ponte entre continentes e transformar essas possibilidades em fontes de fatores de competitividade para construirmos um futuro melhor para todas as cabo-verdianas e todos os cabo-verdianos. Por isso, é importante entendermos bem o papel de Cabo Verde, o papel da Ribeira Grande na história e para podermos fazer as melhores perguntas sobre os tempos atuais.
E, portanto, não nos colocarmos apenas numa análise passiva do passado, mas acendermos as luzes sobre esse passado para podermos iluminar os caminhos do futuro.
Nós estamos a comemorar os 50 anos da nossa independência. Esses 50 anos, nos tempos atuais, não podemos comemorá-los com os olhos postos no passado.
Temos de ver, é claro, o que fizemos nestes 50 anos, os ganhos — e estes são extraordinários nestes 50 anos da nossa independência —, mas, sobretudo, ter a capacidade de sinalizar os desafios.
Nestes tempos de hoje, analisando os cenários e as tendências do futuro, que possibilidades para Cabo Verde no horizonte 2075? Que Cabo Verde queremos construir? Que estratégias, que caminhos para chegarmos a um país que tem capacidade para realizar os sonhos de Amílcar Cabral e de todos aqueles que lutaram contra a subjugação, que lutaram pela independência de Cabo Verde, que é a dignidade da pessoa humana. No fundo, o centro da atenção da luta dos Pais da Independência tem a ver com a dignidade da pessoa humana, Cabral.
Perguntado sobre as razões por que tinha deixado tudo para liderar uma luta de libertação, ele disse: porque viu os guineenses a serem açoitados, viu os cabo-verdianos a morrerem de fome e quis lutar para libertar os povos da Guiné e Cabo Verde da subjugação, para viverem com dignidade.
E é essa a ideia, a dignidade da pessoa humana. Como é que daqui a 50 anos podemos ter um país sem pobreza, um país com mais igualdade social, com menos espaços de exclusão, um país onde haja progresso, um país moderno, um país próspero, um país justo, um país onde as oportunidades existentes possam ser partilhadas por todos.
Então, eu queria dar os parabéns à Câmara Municipal de Ribeira Grande por estas iniciativas, pela mobilização de parcerias para chegarmos aqui, para recriarmos esses momentos altos da história de Cabo Verde.
Nós temos mais de 500 anos de vida, e é preciso valorizar o que nós fizemos em todo este percurso enquanto nação. E também felicitar o IPC pelo trabalho de valorização da Ribeira Grande de Santiago enquanto Património da Humanidade.
Isto aqui é um património do mundo, e temos de ter a verdadeira dimensão desta riqueza e fazer o trabalho necessário para conseguirmos realizar esse ideário de enriquecer o nosso património e servirmos a humanidade enquanto depositários desse património.
E também o militante da história de Cabo Verde, que tem também dado um grande contributo, e nesses 50 anos é bom destacarmos esses contributos distintos para conhecermos a nossa história e termos condições de projetar o futuro, do Professor Doutor António Correia e Silva, por tudo o que ele tem feito pela história de Cabo Verde.
Parabéns, bom trabalho, e espero que tenhamos força, tenhamos suficientes luzes para construirmos novas possibilidades para Cabo Verde no horizonte 2075.
Obrigado.