Ilustres Convidados,
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
Neste dia pleno de significado histórico e de profundo sentido nacional, erguemo-nos para celebrar meio século de independência nacional e de construção coletiva — forjada no sonho, temperada na resiliência, sustentada na coragem e no labor perseverante do povo cabo-verdiano. É ocasião propícia para evocar a nossa trajetória na cena internacional: uma trajetória pautada pela dignidade, pela coerência de princípios e pela determinação em afirmar, no concerto das nações, a singularidade de Cabo Verde e a justeza do seu projeto de desenvolvimento.
Neste mesmo dia, há cinquenta anos, o povo cabo-verdiano celebrou pela primeira vez a sua liberdade, o direito de se governar e de traçar o seu próprio destino. Hoje, revisitamos esse instante fundador não apenas com orgulho, mas com responsabilidade — conscientes de que a independência se conquista todos os dias, com coragem cívica, lucidez estratégica e compromisso nacional.
Gostaria, antes de prosseguir, de saudar e agradecer a presença de todos quantos nos honram com a sua participação neste momento histórico, permitindo-me destacar, em particular: Sua Alteza Real, o Grão-Duque do Luxemburgo; Sua Excelência o Senhor Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa.
Saúdo, igualmente, todos os altos dignitários dos países amigos aqui presentes. Muito nos honra a vossa presença solidária.
São cinquenta anos de enormes conquistas — com efetivo crescimento económico e social, notável elevação dos indicadores de desenvolvimento humano e consolidação de um Estado de direito democrático. Cabo Verde permanece vulnerável, é certo, o que decorre da sua condição de Pequeno Estado Insular em Desenvolvimento. Contudo, temos envidado todos os esforços para aumentar a resiliência da economia e reduzir a exposição aos choques externos, climáticos e geopolíticos.
Esta caminhada nunca foi solitária. Desde a primeira hora, Cabo Verde pôde contar com parceiros valiosos que acreditaram no seu projeto nacional. A confiança de que beneficiámos assentou na estabilidade política, na seriedade institucional, na boa governação e no rigor na gestão dos fundos. Com esses pilares, foi possível edificar um círculo virtuoso de credibilidade e parceria.
Graças a essa aliança, construímos portos, aeroportos, estradas, escolas e hospitais. Investimos decisivamente na educação e na saúde. Alcançámos, em pouco tempo, resultados notáveis para um país com tão escassos recursos naturais. E hoje, somos apoiados também nas transições energética e digital, no reforço da economia azul, na ação climática e na capacitação institucional. Cabo Verde é hoje um País de Rendimento Médio e almeja tornar-se, a médio prazo, uma nação plenamente desenvolvida, próspera e justa.
Aproveito esta oportunidade para reiterar a nossa gratidão aos países amigos e às organizações multilaterais — nomeadamente as Nações Unidas, o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional, a União Europeia e o Banco Africano de Desenvolvimento — que partilharam connosco o caminho, com base no respeito mútuo e numa visão comum do progresso humano.
Para a excelência dessa parceria, contribuiu decisivamente a solidez da nossa democracia. Os nossos compromissos com os direitos fundamentais, a transparência, o Estado de direito, a prestação de contas e a participação cidadã são pilares que garantem a confiança dos cabo-verdianos e a credibilidade internacional que nos distingue.
O contexto internacional contemporâneo continua marcado por tensões e incertezas. Persistem conflitos prolongados, desafios à ordem multilateral e ameaças a valores que julgávamos consolidados. Subsistem realidades que atentam contra a dignidade humana, e, por vezes, a lógica da força tende a sobrepor-se ao primado do direito.
Cabo Verde, cuja história está indelevelmente ligada à luta pela liberdade, pela justiça e pela autodeterminação, mantém-se fiel aos princípios da Carta das Nações Unidas. Rejeitamos a violação da soberania dos Estados, apelamos ao respeito pelas Resoluções da ONU e reafirmamos a centralidade do diálogo e da legalidade internacional como fundamentos indispensáveis de uma ordem global mais estável, mais equitativa e mais pacífica.
Cabo Verde é, e continuará a ser, um país de pontes — entre continentes, culturas, povos e geografias políticas. A nossa voz, embora proveniente de um pequeno Estado insular, é escutada e respeitada porque assenta numa diplomacia coerente, em princípios firmes e num exemplo de governação democrática e transparente.
Somos defensores convictos do multilateralismo eficaz, da cooperação baseada em interesses partilhados, do respeito pelo direito internacional e da dignidade inalienável da pessoa humana.
Nestes cinquenta anos, deixámos de ser apenas recetores de cooperação para nos afirmarmos como parceiros ativos na procura de soluções globais. Contribuímos para a segurança no Atlântico, para a ação climática, para a promoção da economia azul, para a diplomacia cultural e para o reforço da resiliência democrática. Cabo Verde acredita numa cooperação transformadora, enraizada na confiança mútua, na solidariedade responsável e no respeito pela especificidade de cada país.
A nossa diáspora — presente nos quatro cantos do mundo — tem sido também uma ponte viva entre Cabo Verde e a comunidade internacional, contribuindo para afirmar a nossa cultura, os nossos valores e a nossa vocação global.
É essa visão que continuará a orientar a nossa ação no espaço internacional: como país africano, insular, atlântico e universal.
Queremos, também, que os próximos cinquenta anos sejam marcados pelo protagonismo das novas gerações. Mais de 60% da nossa população tem menos de 30 anos — um capital humano precioso que deve ser mobilizado para liderar os processos de inovação, de transição digital e energética, de inclusão social e de aprofundamento democrático.
Cabo Verde reafirma o seu compromisso com a juventude e com a Agenda 2030. Continuaremos a investir na educação, na formação, na criação de oportunidades e na valorização do talento, para que nenhum jovem cabo-verdiano fique para trás.
Este é o nosso compromisso: projetar um Cabo Verde moderno, justo e solidário, que se afirma no mundo pela força dos seus valores e pela qualidade da sua contribuição para o bem comum da humanidade.
A história que hoje celebramos é a de um povo que acreditou em si próprio. Que superou a escassez com engenho, a dispersão com união e o isolamento com diplomacia. Sejamos dignos desta herança. E, juntos, façamos dos próximos cinquenta anos um novo ciclo de conquistas — mais verdes, mais digitais, mais humanas.
Reiteramos os nossos agradecimentos a todos os presentes, com especial menção aos nossos ilustres convidados de países amigos, que tão honrosamente nos acompanham neste marco histórico. Formulamos votos sinceros de que esta parceria duradoura se aprofunde e floresça, ao longo dos próximos cinquenta anos, com renovada ambição, confiança e fraternidade.
MUITO OBRIGADO.