Carlos Lopes destaca legado de Amílcar Cabral em conferência sobre Pan-africanismo

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A Sala Beijing acolheu, sob o Alto Patrocínio do Presidente da República, a Conferência “Amílcar Cabral e a Mudança de Narrativas sobre o Pan-africanismo”, organizada pela Fundação Africana. O economista e académico guineense Carlos Lopes, foi o orador, tendo destacado o papel intelectual de Amílcar Cabral na redefinição do pan-africanismo, deslocando-o de uma abordagem predominantemente racial para uma perspetiva geográfica e cultural, mais adaptada à realidade africana.

Na entrevista que antecedeu a apresentação, Lopes enfatizou que Cabral reinterpretou preceitos do marxismo, rejeitando elementos que não se ajustavam ao contexto africano, e colocou a cultura no centro da luta pela dignidade dos povos africanos. Segundo Lopes, Cabral influenciou intelectuais como Frantz Fanon e Kwame Nkrumah, contribuindo decisivamente para a visão do pan-africanismo que moldou a Organização da Unidade Africana.

Tal como avançara em entrevista de manhã, após encontro com o Presidente José Maria Neves, além do tema central, Carlos Lopes abordou a turbulência política em países africanos, referindo a impaciência das juventudes diante da falta de resultados concretos no desenvolvimento e processos políticos. Lopes enfatiza a necessidade de reformas nas políticas e sistemas eleitorais para evitar crises sociais e contestação popular.

Mais uma vez questionado sobre os receios de alguma mudança nas políticas dos Estados Unidos relativamente à África, após as últimas eleições, Lopes considera que, mesmo com potenciais mudanças na administração de Donald Trump, é improvável que as prioridades relativamente à África – combate ao terrorismo e a contenção da China – sofram alterações significativas. Contudo, mudanças nos debates sobre o clima e o comércio podem impactar o continente.

Finalmente, o economista comentou o adiamento das eleições legislativas na Guiné-Bissau, criticando o desrespeito pelos princípios constitucionais e alertando para o risco de ilegalidade das instituições do país. Lopes sublinhou a urgência de soluções que respeitem o quadro constitucional.

A conferência destacou-se pela reflexão sobre a atualidade do legado de Cabral e pelos debates acerca das complexidades políticas e sociais em África e no mundo.