Queria cumprimenta-vos a todas e a todos, dizer-vos que hoje é um dia de gratidão. Nos finais da década de 60 e inícios da década de 70, eu pude ver, ainda criança, no interior de Santiago, a grandeza da mulher cabo-verdiana. Os tempos eram difíceis. Tudo era precário, tudo era muito vulnerável, a pobreza, a escassez da água, o desemprego e, sobretudo, uma grande falta de perspetiva de vida.
Mas as mulheres de Pedra Barro, que era a minha comunidade, quase todas elas mães de chefes de família, fizeram tudo para criar os seus filhos, contra todas as esperanças, contra todas as expectativas, contra todas as secas, porque a secura espiritual era enorme, para além da escassez de água. E essas mulheres, quase todas elas mães de chefes de família, fizeram absolutamente tudo para educar os seus filhos e permitir que fossem homens e mulheres, hoje, destacados na sociedade cabo-verdiana. Eram mulheres empreendedoras, eram mulheres que desafiavam a natureza, eram mulheres que desafiavam a subjugação, portanto, eram combatentes, em verdade.
E hoje, 50 anos depois, podemos ter a certeza que houve um enorme crescimento destas mulheres. Cabo Verde hoje é um país completamente diferente, um país soberano, democrático, e que está gradualmente a realizar a ânsia das cabo-verdianas e dos cabo- Verdianos, que é o desenvolvimento. Hoje podemos ver uma presença grande das mulheres no governo, no parlamento, nas autarquias locais, mas também nas empresas, basta ver as universidades, os hospitais, os liceus, as escolas, para percebermos o quanto esta sociedade cresceu e o quanto as mulheres ganharam, em termos de poder, e o quanto houve uma enorme melhoria das condições de vida, e graças a esta grande entrega das mulheres cabo- verdianas, a esta grande entrega dos cabo-verdianos, das cabo-verdianas.
E então, hoje é um dia de gratidão. Se repararem, essas heroínas, as cabo-verdianas, também se destacaram, desde o início da nossa independência, na construção deste país. Nós podemos ver os ganhos que nós conseguimos em termos da saúde reprodutiva em Cabo Verde. São ganhos enormes. As mulheres estiveram na linha da frente desta luta para a criação dos projetos, no primeiro momento do planeamento materno-infantil, depois da saúde reprodutiva, os ganhos que nós tivemos na redução da mortalidade infantil, na defesa da saúde das mulheres, e fizemos enormes investimentos nas pessoas, e pudemos estruturar o Sistema Nacional de Saúde onde as Mulheres têm um contributo enorme, e os ganhos estão à vista de todos. Tivemos mulheres, hoje, que nas várias organizações, como a OMCV, como a MORABI, que têm feito um trabalho de empoderamento das mulheres em Cabo Verde.
Um trabalho enorme de empoderamento das mulheres. Eu oiço, de vez em quando, mulheres que falam nos órgãos de comunicação social do microcrédito que a OMCV e a MORABI promovem, e que contribuem substancialmente para a melhoria da qualidade de vida das mulheres em Cabo Verde. Vejo também todo o trabalho, o domínio da saúde reprodutiva que a VerdeFam vem realizando no país desde há muitos anos.
Mas ainda temos enormes desafios, a pobreza, as desigualdades, os baixos rendimentos, a violência com base no género, a paternidade irresponsável, a violência sexual contra menores, são grandes desafios que ainda temos aqui em Cabo Verde. São nódoas que ainda temos aqui em Cabo Verde. Portanto, temos de continuar a lutar. E destaco também o trabalho que a Organização Cabo-verdiana de Luta Contra a Violência com base no género tem feito para chamar a atenção.
E muito desse trabalho é feito silenciosamente. Temos que poder trazer todo esse trabalho para o espaço público e dar a verdadeira dimensão a este enorme contributo destas organizações aqui em Cabo Verde. É por isso que estamos aqui a condecorar estas organizações para, através delas, manifestar a nossa gratidão a essas heroínas que são as mulheres de Cabo Verde.
Os tempos são difíceis hoje no mundo, Há uma enorme ebolição, há um processo de transfiguração, e um pequeno país como Cabo Verde tem de estar suficientemente atento, ser inteligente, ser pragmático para podermos preservar as conquistas. E, sobretudo, todos nós temos uma enorme responsabilidade. Eu acho que é fundamental o grande “djuntamon” entre todas as cabo-verdianas e todos os cabo-verdianos, de todos os partidos, de todas as ilhas, aqui e na diáspora, para fazermos face aos desafios que se colocam. É tempo de nos despertarmos para os enormes desafios que se colocam no mundo hoje.
As guerras, a violência, as mudanças climáticas, esta guerra comercial entre os diferentes países, e os problemas em relação ao multilateralismo e à cooperação internacional, tudo isto vai afetar profundamente o mundo, mas particularmente Cabo Verde.
E hoje, no Dia das Mulheres, é tempo de chamarmos a atenção. Nós só resolveremos os problemas das mulheres se enfrentarmos os desafios de Cabo Verde.
Só teremos mais progresso social, só teremos menos desigualdade, menos pobreza, se nós conseguirmos um enorme crescimento económico do nosso país. Temos que construir fatores de competitividade, acelerar o ritmo de crescimento do nosso país, e poder, assim, combater as desigualdades e todas as formas de exclusão e ter um país com mais progresso social e melhor qualidade de vida. Portanto, temos de preservar as nossas conquistas e fazer muito mais para o futuro destas ilhas.
Muito obrigado por tudo o que tendes feito, eu sei que representam, estas quatro organizações, a grandeza do trabalho que as cabo-verdianas e os cabo-verdianos têm feito para podermos cumprir Cabo Verde.
Muito obrigado.
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