Sr. Presidente da Câmara Municipal da Boa Vista, Sra. Presidente da Associação Cabo-Verdiana de Luta Contra a Violência Baseada no Género, distintas conferencistas, distintos conferencistas, caras convidadas e caros convidados, representantes da sociedade civil, minhas senhoras e meus senhores.
É com sentido de missão, que me associo mais uma vez à Associação Cabo-Verdiana de Luta Contra a Violência Baseada no Género, nesta importante iniciativa que já vai na sua sétima edição. Saúdo calorosamente todos os presentes e congratulo os organizadores, pela sua perspectiva descentralizada de trabalho, elegendo desta feita a Ilha da Boa Vista como palco desta Semana Internacional de Reflexão.
Esta escolha tem um valor simbólico e estratégico. A Ilha da Boa Vista, sendo um dos principais polos turísticos do país, vive uma profunda transformação social, marcada pelo crescimento económico e social e por um forte fluxo migratório. Esta dinámica tem levado à constituição de um mosaico multicultural rico, mas também à emergência de novos desafios, como o aumento da vulnerabilidade de determinados segmentos da população em especial, mulheres e crianças migrantes, muitas vezes em situação de precariedade, informalidade laboral ou isolamento social. Essas especificidades exigem uma atenção redobrada por parte das autoridades locais e nacionais e impõem a formação de políticas públicas sensíveis ao género, culturalmente informadas e territorialmente adaptadas.
Compreender estas realidades integrá-las nas respostas à violência baseada no gênero são prioridades nacionais e essenciais do progresso económico e social da Ilha, que se quer em consonância com os direitos humanos, a justiça social e a dignidade humana. A descentralização das ações de reflexão e sensibilização é um passo crucial no combate às assimetrias regionais e na busca de uma cada vez melhor coesão territorial. Permitam-me também enaltecer o lema escolhido para esta edição por uma cultura da paz.
É de facto um apelo que convoca toda a sociedade, instituições, famílias, comunidades, lideranças e cidadãos para uma mudança de mentalidade que coloque a dignidade humana no centro das relações sociais. Promover uma cultura da paz é apostar num cabo verde mais justo, mais seguro e mais inclusivo. A violência baseada no género continua a ser uma realidade dolorosa no nosso país.
Os dados estatísticos mostram uma prevalência ainda elevada de casos sobretudo entre mulheres e raparigas, frequentemente silenciados pelo medo, pela dependência económica ou pelos padrões culturais. No momento em que assinalamos os 50 anos de independência, devemos refletir sobre os caminhos trilhados enquanto nação no que diz respeito à promoção da igualdade de gênero e à erradicação da violência baseada no gênero. É tempo de reconhecer os avanços alcançados no plano legal, institucional e social, mas também de encarar com coragem os desafios persistentes.
A cultura do silêncio, os estereótipos de género, a normalização da violência nas relações afetivas e as limitações ainda existentes no acesso à justiça e à proteção para muitas mulheres e meninas.
Os 50 anos de independência devem ser um marco de renovação do compromisso coletivo com a construção de uma sociedade onde a liberdade, a igualdade e a dignidade não sejam apenas princípios consagrados, mas direitos vividos por todas e todos, sem exceção.
É urgente que o combate à violência baseada no género também inclua o questionamento e a transformação dos papéis de género, particularmente no que toca à masculinidade. A verdade é que, ao longo do tempo, o homem tem estado pouco enquadrado nas discussões sobre a igualdade de género e, por vezes, as masculinidades são construídas sobre valores de dominação, controle e silenciamento das emoções.
É tempo de reformular esta realidade. É tempo de educar os nossos rapazes para a empatia, o cuidado, o respeito e a não-violência. Trabalhar as masculinidades é trabalhar a paz, é preparar uma nova geração de homens conscientes dos seus direitos e responsabilidades, capazes de se relacionar com as mulheres em pé de igualdade e de forma harmoniosa. Por isso, deixo aqui um apelo. Que façamos desta semana não apenas um espaço de denúncia e reflexão, mas também de escuta, de proposta e de esperança.
Que saiamos daqui com ideias concretas, ações concertadas e alianças reforçadas. Que a cultura da paz se instale nas nossas casas, nas nossas escolas, nas nossas comunidades e nos nossos corações.
Bem haja a Associação Cabo-verdiana de Luta contra a Violência Baseada no Gênero, pelo trabalho incansável que vem realizando. Bem haja os parceiros e a Câmara Municipal da Boa Vista por acolherem este evento com tanto empenho.
Bem haja a todos os que, com coragem e convicção, continuam a lutar por um Cabo Verde mais justo e mais igual.