Mensagem à Nação Global, de Sua Excia. Presidente da República, Dr. José Maria Neves, por ocasião das comemorações do 5 de Julho

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Cabo-verdianas e cabo-verdianos,

Queridas Amigas, Caros Amigos,

Neste cinquentenário da nossa Independência, marco maior da nossa epopeia coletiva, dirijo-me à Nação cabo-verdiana — com particular ênfase e emoção à nossa vasta e vibrante Diáspora, a verdadeira décima primeira ilha da nossa geografia afetiva.

Cabo Verde nasceu arquipélago e fez-se Nação global. Uma Pátria sem fronteiras físicas, mas com um só coração. Hoje, celebramos com orgulho cinco décadas de liberdade e soberania. E celebramos, também, o papel insubstituível da Diáspora na edificação, projeção e consolidação do nosso destino comum.

Cabo Verde não seria o que é hoje sem a sua Diáspora. Desde tempos imemoriais, sucessivas gerações de cabo-verdianas e cabo-verdianos partiram em busca de dignidade, sustento e horizontes mais amplos. E onde quer que tenham chegado, levaram consigo a alma do arquipélago, entrelaçando uma teia afetiva, económica e simbólica que transformou um pequeno país insular num Estado transnacional.

Espalhada pelos quatro cantos do mundo, a Diáspora tem sido presença constante e decisiva na vida nacional. Desde o apoio quotidiano à subsistência e ao bem-estar de inúmeras famílias, até à resposta solidária em momentos de crise — como ficou exemplarmente demonstrado durante a pandemia da Covid-19 — o vosso contributo tem sido contínuo, generoso e insubstituível.

Muitos dos que abraçaram a causa da Independência emergiram precisamente do seio da comunidade emigrada. O contacto com outros povos e o convívio com valores democráticos ajudaram a moldar, de forma decisiva, a nossa cultura política de tolerância, pluralismo e convivência cívica.

Para além das remessas financeiras — que continuam a representar uma relevante componente da nossa economia — a Diáspora tem sido um esteio estratégico do desenvolvimento nacional. Contribui com saberes, redes de contacto, capital humano e influência reputacional.

Tendes sido pontes indispensáveis: na mobilização de investimentos, no fomento de parcerias, na difusão de uma imagem de Cabo Verde como país de estabilidade, de confiança e de ambição serena. Tendes sido fermento de ideias, de políticas, de inovações, de crescimento, de transformação.

Esse papel deve ser reconhecido e elevado à condição de ativo estratégico da nossa diplomacia contemporânea. À semelhança de outras diásporas organizadas e mobilizadas, também a cabo-verdiana tem estado a exercer diplomacia, promovendo, com engenho e convicção, os interesses de Cabo Verde junto de diversas instituições, nomeadamente as de ensino superior, centros de inovação, fóruns económicos e outras plataformas internacionais de diálogo e cooperação.

Essa ligação profunda à terra-mãe tem um nome: Cultura. É ela que vos mantém ligados à origem — da língua à música, da gastronomia — onde a cachupa alimenta encontros de saudade — às artes. O crioulo, falado com orgulho em todos os continentes, é o traço mais íntimo da identidade cabo-verdiana. Em todas as suas variedades, é o ponto que liga a Nação Global. E a música — com os seus ritmos únicos, do batuco à morna — tem sido o cartão de visita mais poderoso da nossa alma comum.

A produção cultural da Diáspora, nas suas múltiplas formas, é vasta, diversa e sofisticada. Grupos musicais lendários, escritores premiados, artistas plásticos e cineastas de renome, empresários e trabalhadores, académicos e investigadores — todos eles projetam Cabo Verde com dignidade, criatividade e brilho.

A gastronomia preserva os sabores da infância. A religião cristã constitui um espaço de encontro, de partilha e de coesão. O desporto é palco onde o talento da segunda geração se afirma com garra, enchendo-nos de orgulho — dos Tubarões Azuis às pistas de atletismo, das artes marciais aos desportos náuticos.

É notável como os cabo-verdianos se integram plenamente nas sociedades de acolhimento, sem jamais renunciarem aos traços essenciais da sua pertença cultural. Um exemplo eloquente é o “Kola San Jon”, hoje elevado a património imaterial da cidade de Lisboa.

Esta admirável capacidade de adaptação, de afirmação sem confronto, constitui um dos mais valiosos atributos da nossa Nação global: o verdadeiro soft power cabo-verdiano. Um poder discreto, mas eficaz. Cultural, mas com impacto político e económico. Que esse prestígio internacional se converta, cada vez mais, em valor estratégico para o desenvolvimento de Cabo Verde.

Numa conjuntura em que, infelizmente, se agravam as atitudes hostis face às comunidades migrantes, apelo à prudência, ao escrupuloso respeito pelas leis dos países de acolhimento e à participação ativa na vida cívica dessas sociedades.

A melhor forma de defesa é a excelência. A resposta mais firme à exclusão é a cidadania ativa. E a mais nobre homenagem a Cabo Verde é viver com dignidade, elevação e exemplo, em qualquer latitude do mundo.

Cabo Verde é o que é porque cada cabo-verdiano, onde quer que esteja, nunca deixou de ser parte essencial do seu destino. Cabo Verde é o que é porque sempre houve um grande djunta mon entre os que de sol a sol, “dor a dor, amor a amor”, nas ilhas, vão criando o país, e os que se encontram espalhados pelos quatro cantos do mundo a viver o espírito da independência, da liberdade, da democracia e do desenvolvimento. Todos os dias, na ânsia de sermos grandes e cada vez maior, sempre juntos, inventamos um país para construir e viver melhor.

O Estado de Cabo Verde continuará firme no cuidado e na defesa dos direitos dos cabo-verdianos espalhados pelo mundo. Cabo Verde é o porto seguro de todas as suas filhas e todos os seus filhos, nas ilhas ou na diáspora.

Em nome de todos os que habitam estas ilhas, expresso a mais elevada gratidão a todos vós — nas comunidades espalhadas pelo mundo — pela forma como tendes elevado, com nobreza e constância, o nome e os valores de Cabo Verde.

Sois a nossa força discreta, o nosso prestígio visível, a nossa Pátria viva além-mar.

Este é tempo de união, a partir das nossas diferenças, de intensa mobilização de todas as capacidades nacionais, nas ilhas e na diáspora, para andarmos mais depressa no processo de modernização e de transformação do país numa terra próspera e de oportunidades.

A minha mais vibrante homenagem às cabo-verdianas e cabo-verdianos, heroínas e heróis desta magnifica gesta de construção do Cabo Verde dos nossos sonhos.

Viva a Independência!

Parabéns Cabo Verde! Parabéns à Diáspora!

MUITO OBRIGADO!