Mensagem do Sr. Presidente da República, por ocasião do evento de celebração dos 10 anos do falecimento de Corsino Fortes

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Homenagem a Corsino Fortes

Ilustres Convidados,

Minhas Senhoras e Meus Senhores,

Reunimo-nos hoje para evocar uma das figuras maiores da nossa cultura, da nossa diplomacia e da nossa própria identidade enquanto povo: Corsino António Fortes. Poeta de verbo telúrico e inaugural, Corsino foi um construtor de símbolos e um artífice da palavra, ajudando, com o seu engenho e sensibilidade, a erguer o edifício espiritual da Nação cabo-verdiana.

A sua poesia, feita de barro e vento, de morabeza e resistência, é um monumento de linguagem, onde as raízes africanas se entrelaçam com o génio crioulo e o horizonte atlântico, criando uma voz única — simultaneamente denúncia da opressão, celebração da liberdade e reinvenção da esperança. Corsino Fortes é, por isso, um nome que se inscreve nos alicerces da nossa história cultural.

No domínio da diplomacia, inaugurou a representação de Cabo Verde em Lisboa, em 1975, pouco após a independência, e representou-nos com brilhantismo junto dos governos de Espanha, França, Itália, Noruega e Islândia. Mais tarde, assumiu funções de relevo em Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Zâmbia e Zimbabué. Foi sob a sua liderança, como embaixador, que as atuais instalações da nossa Embaixada em Lisboa — e não só — foram adquiridas, num gesto de visão e de sentido de futuro.

Na política, desempenhou cargos de elevada responsabilidade, como Secretário de Estado da Comunicação Social e Ministro da Justiça. Foi figura central na criação da televisão nacional, inspirado em modelos europeus de vanguarda, num tempo em que ousar inovar significava abrir caminho onde quase nada existia. No Ministério da Justiça, trabalhou para consolidar instituições, num período de transição e de abertura democrática.

Mas Corsino Fortes não se limitou à função pública. Com a mesma determinação, fundou a Ímpar Seguros, a primeira seguradora de capitais privados de Cabo Verde, por acreditar no papel estruturante do setor empresarial na edificação do bem comum.

Em todos os lugares por onde passou, Corsino Fortes agiu com um sentido de Estado inabalável, com uma integridade que nunca vacilou e com uma confiança quase intuitiva na juventude, acreditando sempre que as novas gerações seriam capazes de enfrentar os maiores desafios, tal como a sua geração enfrentou os ventos incertos da luta pela liberdade.

Não menos importante era a dimensão humana de Corsino. De espírito jovial e bem-humorado, sabia transformar episódios do quotidiano em narrativas repletas de encanto e sabedoria, sempre com aquele sorriso sereno que desarmava as dificuldades e tornava mais leves as grandes responsabilidades que carregou.

Hoje, passados dez anos sobre a sua partida, celebramos não apenas o poeta, o diplomata, o político ou o empresário, mas sobretudo o homem de ideias e de ação, o cidadão íntegro e visionário que se fez pedra e poema, pão e fonema, silêncio e tambor.

Corsino Fortes deixou-nos um legado que atravessa gerações e fronteiras. A sua obra literária é uma verdadeira cartografia da alma cabo-verdiana, um mapa de resistências e esperanças, e o seu percurso de vida é um exemplo de como se pode servir a pátria com dedicação, engenho e coragem.

Que o seu nome continue a iluminar o caminho de Cabo Verde, porque, como disse um dia, “não há fonte que não beba da fronte do homem.”

Muito obrigado, Corsino Fortes!

Muito obrigado!