Mensagem de S.E. o Presidente da República, Jorge Carlos de Almeida Fonseca, no dia 29 de Abril, celebração dos 162 anos da Cidade da Praia.
Palácio do Presidente da República, 29 de Abril de 2020
Em 162 anos de vida, a Cidade da Praia viu nascer e morrer muitas gerações, homens e mulheres que dela fizeram a sua casa, o seu espaço de vida, de trabalho e de convívio, com as suas famílias e amigos. Da Praia do planalto e da baía, das suas achadas, seus arredores arborizados, de funcionários públicos e pescadores, comerciantes e agricultores, capital das ilhas flutuantes no tempo, à urbe-palco de disputas políticas, de gente crítica e indomável. Esta tem sido a cidade que atravessou o seu tempo enfrentando piratas, fomes cíclicas, estiagens, rebeliões absolutistas, revolta de escravos – Gervásio, Domingos e Narcizo, que conspirou pela liberdade, em suas ruas e cafés, embalou sonhos de poesia e de glória dos seus estudantes de liceu, de escritores, artistas e políticos. É a Praia que proclamou a libertação na Várzea e a felicidade nos corações, soltando o sonho colectivo, na poeira do instante.
Neste nosso tempo não temos mais rebeliões e fomes. Conseguimos os meios para debelar as secas e a estiagem já não representa um perigo de vida para as nossas populações. Mas hoje enfrentamos um perigo novo e diferente, jamais vivido pela Humanidade. Uma nova ameaça que desertificou as ruas desta nossa cidade, votou os nossos bairros a um recolhimento contranatura, mas necessário, que mudou os nossos hábitos, transformou a nossa vida e a vida da Cidade da Praia. Da Achada Grande à Cidadela, do Planalto central à Achada São Filipe, os praienses cerram fileiras, mostram-se cidadãos e munícipes conscientes das suas responsabilidades. Os homens e mulheres desta cidade são como pequenos alvéolos deste verdadeiro pulmão da nossa economia e do nosso tecido social, que temos de preservar, a todo o custo.
A resposta dos praienses, ao chamamento das autoridades, para enfrentar este momento difícil, é a prova de amor maior pelos seus semelhantes e um gesto de civismo, com pronunciados sacrifícios – não podemos esquecer – o que só reforça a qualidade dos habitantes desta nossa cidade capital. É ela que alberga as nossas gentes, aqueles que aqui nasceram, que migraram do interior da ilha, que usufruem dela diariamente, que vieram das restantes ilhas do arquipélago, enriquecendo-a com as suas tradições. Aqui todos se encontram e fazem da nossa cidade o espelho deste país vibrante e variado. Dos órgãos de soberania às nossas maiores empresas, da maior parte das nossas universidades, instituições públicas e privadas, a actividade bancária e seguradora, imprensa, desportistas de todas as modalidades, geridas e presididas por cabo-verdianos de todas as ilhas e concelhos do país, esta Cidade da Praia é o nosso ‘melting pot’, o nosso destino comum.
Em mais de século e meio de existência, a Cidade da Praia, estendida do Plateau às suas achadas, várzeas e colinas, assistiu a todas as calamidades, de forma estoica, determinada, com fé e esperança. Estou certo de que este novo desafio, esta nova prova, será vencida a seu tempo, com o contributo de todos, assim como os nossos antepassados o fizeram. Ou não fosse o nome desta cidade, Praia de Santa Maria da Esperança.
Quem sabe! – como no-lo cantou o poeta – ela venha a ser «… metrópole sem igual, longa, perversa, cheia de luz, a pedir mais luz, como queria Goethe…»).
Neste momento especial de pandemia e da celebração dos 162 anos do seu aniversário, desejo aos seus dirigentes autárquicos e a todos os seus munícipes, as maiores felicidades e um abraço forte de confiança e solidariedade.