Mensagem do Presidente da República, por ocasião do Dia do Município da Brava, 24 de Junho
A celebração de mais um dia do município, no nosso pequeno país, é sempre motivo de grande alegria e orgulho para as populações e os autarcas, pelo trabalho desenvolvido, pelo dia a dia árduo. É sempre mais um passo na afirmação e na exaltação das virtudes de uma das maiores conquistas da democracia cabo-verdiana: o nosso poder local.
Hoje celebramos mais um dia do município da Brava, a nossa mais pequena ilha habitada, a mais pequena circunscrição administrativa de Cabo Verde, neste dia 24 de Junho. Uma efeméride festiva e histórica, este ano rodeada de contingências sanitárias, pelos motivos que todos conhecemos, e que nos obrigam a adoptar comportamentos e hábitos novos, numa atitude responsável, como vem sendo seguido em todo o país. Mas também é o dia em que todos devemos lançar um olhar mais atento àquela que, ao longo dos tempos, incluindo o pós-independência e até os dias de hoje, se tornou na ilha considerada mais periférica do país.
Ao longo da sua história, a ilha-município, os seus habitantes, soltou as suas amarras e foi em busca de outros futuros, outros horizontes, outras fontes de rendimento, outras vidas, cruzando horizontes e alcançando outras terras. Homens e mulheres tomaram como sua responsabilidade olhar por ela, a ilha-mãe, e tudo fazendo para que o seu berço natural não passasse qualquer tipo de necessidade, independente de um bom ou mau ano agrícola. E a pequena ilha deu à nação capitães e marinheiros intrépidos, almirantes, músicos, poetas, magistrados e aventureiros, republicanos e amantes da liberdade, homens e mulheres virtuosos, que sempre a tiveram no coração.
O mar formou também o bravense e corre-lhe, ainda hoje, nas suas veias. Ainda está por apurar todo o contributo que uma ilha de pouco mais de 60 quilómetros quadrados deu a esta nação, filhos e filhas que cresceram com o sabor das ondas ou sob as névoas dos seus montes, da Furna e Santa Bárbara a Lém, de Nova Sintra a Nossa Senhora do Monte, de Fajã de Água a Lomba de Tantum, de Mato a Cachaço. Sessenta e quatro quilómetros quadrados de encantamento, viço e afectos, de música, cores, aromas e versos, esvoaçando por vales, almas e montanhas, em terna e perfeita coligação.
Os tempos mudaram, é verdade. Uns partiram e outros ficaram. Gerações, costumes e tradições. Hoje, a ilha e as suas populações vivem e reclamam do isolamento, da falta de infraestruturas fundamentais, de equipamento médico e hospitalar, e sobretudo de transportes. Os tempos e os desafios hoje são outros e procura-se colocar a ilha numa rota de desenvolvimento, encontrar o caminho certo, as opções mais adequadas e consentâneas com a sua realidade. Há sinais de «discriminação positiva» de que tanto, justificadamente, se exige, mas é preciso reforça-la e em tempo adequado e justo.
O potencial turístico é enorme e estará aqui, sem dúvida, umas dessas vias. Sabemos onde está essa riqueza, e cabe-nos encontrar a melhor forma de aliar a beleza paisagística ao interesse histórico-cultural da ilha Brava. E só um planeamento na justa medida e concentração de esforços numa estratégia integrada poderá produzir resultados, trazendo a ilha para um circuito turístico nacional e internacional. A Brava é grande, tanto que nunca coube nos seus limites físicos. O seu nome cruzou fronteiras, tornou-se gentílico a bordo de baleeiros americanos e nos campos de fruta de Rohde Island; desperta nos cabo-verdianos imagens de uma natureza mítica, um imaginário colorido e de paixões sofridas e cantadas.
E neste dia especial, quero desejar a todas as mulheres e homens da Brava, em especial aos seus autarcas e eleitos municipais, um bom dia do município, fazendo votos para que a ilha continue a ser essa pérola sonhada e desejada por todos. E mais do que apenas um cartão postal, que a «brava ilha da solidão» possa ser cada vez mais conhecida pelos restantes habitantes deste nosso país e não só, e que os bravenses, seniores e jovens, continuem orgulhosos da sua terra e nela encontrem a felicidade, para si e para a suas famílias, com progresso, bem-estar e realizada justiça. Que bem merece a terra de Eugénio Tavares e Senna Barcellos, de Djidjinho e Guilherme Dantas, de George Leighton, José Azulay Medina Armando Napoleão Fernandes.