Neste dia 31 de Julho celebra-se mais um Dia da Mulher Africana, a madre primordial, de um continente que deu à luz a Humanidade. Esta mulher africana, que nos surge muitas vezes como jovem sorridente, mulher dedicada e trabalhadora ou nobre anciã, faz parte do imaginário de todos e é elemento central do nosso universo afectivo. A história do continente africano é também a história das mães e das mulheres africanas. Elas que viram, durante séculos, seus maridos e filhos transformados em mão de obra escrava, para o continente americano e o Médio Oriente, que garantiram a solidez das suas sociedades, estruturadas em bases matriarcais.
Ainda nos dias de hoje são elas que suportam a pequena economia, que alimenta e garante a sobrevivência das populações. Também garantiram a continuidade da sua cultura na diáspora, Brasil, Estados Unidos, Caraíbas, Europa. Estiveram ao lado e na rectaguarda daqueles que procuraram, em tempos mais próximos, a liberdade através da luta armada ou da disputa política, nos processos de democratização dos seus países.
A África não é um país. A mulher africana não é uma só, como todos sabemos. Mas, ao contrário de outros continentes e regiões do globo, a mulher africana ainda mantém traços muito comuns, no que se refere às suas carências e condições de vida. O processo de desenvolvimento, que se iniciou com as independências, veio sendo sobressaltado por problemas económicos, estruturais, de governação e de rupturas políticas, que resultam numa instabilidade permanente, em muitos dos países do continente. As mulheres, a par das crianças, são as principais vítimas deste processo atribulado. E apesar do desanuviar lento dos dias mais cinzentos, com a alguma estabilidade que vai chegando, a sua condição, infelizmente, não vem sendo alvo da atenção da maioria dos governos.
Também continuamos a ver, com muita tristeza, levas de refugiados, nomeadamente, nos países da região dos Grandes Lagos, em que as imagens nos mostram milhares de mulheres com as suas casas e vidas à cabeça, com filhos às costas ou pelas mãos. Mas são estas mesmas mulheres, depois de violentadas e mal tratadas, que são capazes de sufocar no peito a dor e o sofrimento, e lançar mãos ao trabalho para garantir o sustento dos seus filhos, fazendo milagres para levar as suas vidas para a frente. A violação de vários direitos e a forma negligente como ainda é vista no mercado de trabalho, impedem que estas conheçam, na maioria dos casos, uma melhoria nos seus salários e no acesso aos postos de trabalho de melhor remuneração, e ao reconhecimento social das suas competências, em sociedades ainda cristalizadas numa postura profundamente conservadora. É sabido como, em tempos de crises económicas e sanitárias, elas são as primeiras vítimas, aquelas que mais sofrem com o impacto dos solavancos e da instabilidade social
Mas os sinais de mudança estão aí, sobretudo no espaço urbano. Para além de se levantarem cedo para preparar o café da manhã para a família, tratar dos filhos e levá-los à escola, muitas são aquelas que se dirigem depois para as suas empresas ou seus postos de trabalho de destaque, para dar aulas nas universidades, investigar em laboratórios, tomar decisões políticas importantes. Contribuem, assim, para melhorar o estatuto social do seu género, deitando abaixo barreiras sociais e culturais, fazendo delas uma força importante no processo produtivo e para o desenvolvimento dos seus países. Se a África é o continente que reúne todas as esperanças para o nosso futuro, a mulher africana é, sem dúvida, o garante dessa força indómita, capaz de cobrir de amor, carinho e esperança todos os seus filhos. Como a sombra da árvore na savana.
Assim, neste dia muito especial, vão os meus votos de feliz Dia da Mulher Africana a todas que, no continente e fora dele, labutam nessa busca permanente pela harmonia e pela felicidade das suas famílias.
Palácio do Presidente da República, 31 de Julho de 2020
Jorge Carlos de Almeida Fonseca