Linguista defende paridade entre línguas cabo-verdiana e portuguesa

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A Professora Amália Lopes defende uma mudança da política linguística em Cabo Verde, para o devido reconhecimento da igualdade, em estatuto e prestigio, entre a língua cabo-verdiana e a língua portuguesa.

A linguista foi oradora, esta quarta-feira, na Conferência «Língua cabo-verdiana: Fundamentos para uma política de língua integrada», promovida pela Presidência da República e pela Câmara Municipal de São Filipe, na Casa da Memória, no quadro das actividades do centenário da cidade.

A antiga presidente da Comissão Nacional das Línguas defende, para o efeito, uma estratégia dividida em três fases e que abarca a oficialização imediata da língua cabo-verdiana, mediante a revisão da Constituição da República; a sua normalização/padronização e respetiva regulamentação e a implementação, mediante um plano devidamente estruturado e com metas bem definidas a curto, médio e longo prazos.

A professora aposentada sublinha que é preciso fazer as pessoas compreenderem que a língua Cabo-verdiana é uma língua plena e com valor e dignidade para ser oficializada e ensinada, por forma a sair da “clandestinidade”. Neste quadro defende o ensino bilingue das duas línguas no país, e em igualdade de circunstância.

Em relação à língua cabo-verdiana, Lopes considera necessária a sua normalização, mas de uma forma flexível e plural, com regras obrigatórias e outras variáveis, integrando todas as variedades.

Por outro lado, diz Amália Lopes, há necessidade de uma educação linguística no país, por forma a se trabalhar algumas ideias que vêm do período colonial, quando a política linguística desvalorizava as línguas nacionais, particularmente o crioulo, ideias essas que ainda subsistem em algumas mentes, embora cada vez menos.

A professora lembra que a língua é um instrumento de construção da consciência e da identidade de um povo, mas que pode correr o risco de definhar e desaparecer, quando não é oficializada e não é ensinada.

A Professora Amália Lopes defende dignidade da Língua cabo-verdiana e um sistema bilingue de ensino

As posições defendidas por Amália Lopes mereceram o apoio do Presidente da República que, em declarações aos jornalistas, no final da conferência, voltou a defender a oficialização plena da língua cabo-verdiana, de forma plural e com base em todas as variantes.

José Maria Neves lembra que a língua cabo-verdiana é a que une Cabo Verde e a sua diáspora, havendo por isso razões de sobra para se apoiar, de forma absoluta, a dinâmica em torno da sua oficialização.

“Não há mais tempo a perder, temos de acelerar, fazer as mudanças necessárias, introduzir a língua cabo-verdiana no ensino e avançar”, arrematou José Maria Neves que concluiu, assim, a sua segunda deslocação ao Fogo, enquanto Presidente de Honra do Centenário de São Filipe.

A Presidência da República organizou esta conferencia e o Colóquio sobre a Língua Cabo-verdiana, no passado dia 21, para assinalar o Dia e o Mês da Língua Materna.

Na tarde desta Quarta-feira, o chefe de Estado teve, ainda, tempo para manter uma conversa aberta com os alunos do 11º e 12º anos da Escola Secundária de Ponta Verde.