Discurso Proferido por o Presidente da República, Dr. Jorge Carlos de Almeida Fonseca, por…

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Discurso Proferido por S.E o Presidente da República, Dr. Jorge Carlos de Almeida Fonseca, por ocasião da abertura da conferência sobre o 3º Diálogo de Alto Nível do Centro Internacional de Investigação do Atlântico

Praia, 7 de Maio de 2018

Excelências,
Ilustres Convidados,
Minhas Senhoras e meus Senhores,

O destino de Cabo Verde sempre esteve ligado ao Atlântico. Cabo-Verde mais não é do que um conjunto de picos que se elevam das profundezas desse imponente e misterioso Oceano para espreitar, vigiar e participar da vida do mundo.

Nessa qualidade sempre foi ponto de encontro de pessoas, raças, culturas, por vezes em contextos muito dolorosos, eivados de suor, de sangue, de violência, mas também de afectos, de permutas, que permitiram esculpir nestas ilhas agrestes uma sociedade de mulheres e homens tenazes que têm sabido construir uma cultura que adoça o Atlântico e, pelo menos no imaginário colectivo, suaviza as agruras da natureza.

Temos sido uma fiel sentinela neste oceano que liga continentes e povos e por onde, ao longo da história, têm sulcado barcos carregados de pessoas, de bens, de sonhos e, por vezes, de miséria.

Para além da importância inestimável, para o mundo, para o Atlântico, para Cabo-Verde de que se reveste o evento de hoje, simbolicamente a sua realização no país tem o sentido de um retorno.

Assalta-nos uma estranha sensação, não do recebimento de uma dívida contraída séculos atrás, mas da valorização de uma realidade que cada dia se afirma com toda a pujança, qual seja, a nossa vocação para ser ponte, elo entre povos, culturas, continentes. Parte activa de um diálogo permanente de paz, de concórdia, de tolerância, de intercâmbio, num mundo que muitas vezes parece apostado em seguir caminho inverso.

É com este espírito fraternal que vos recebo na pátria de Eugénio Tavares, nosso compositor maior, que imortalizou o Mar Eterno, e de Cesária Évora que cantou a Alma cabo-verdiana melhor do que ninguém, e vos dou as boas-vindas de forma muito calorosa.

Associo-me ao azul do abraço que permanentemente o Atlântico estende aos nossos países e dirijo-me, de forma muito especial, aos que vieram de fora para dar continuidade à construção deste edifício onde cabem a ciência, a investigação, a cultura, a criação de riqueza, a inclusão, o clima, a energia, o emprego, a solidariedade e, inevitável e implicitamente, a poesia – a verdadeira alma das coisas, chave do sentido final das cousas do mundo. Edifício cujos alicerces estão sendo solidamente implantados no Atlântico e cujo horizonte vai muito além da atmosfera para se perder, encontrando-se, no espaço infinito.
Minhas Senhoras e meus Senhores,

É com muito interesse que acolhemos a realização deste Terceiro Diálogo de Alto Nível do Centro Internacional de Investigação do Atlântico, cujos objectivos abraçámos desde a primeira hora. Subscrevemos a Declaração de Florianópolis e participámos das actividades promovidas até o presente.

Reveste-se de uma importância muito particular, para nós, a participação neste processo. Ser parte de um projecto de dimensão cientifica e humana tão relevante é simultaneamente uma honra e um desafio que abraçamos com muita firmeza e com toda a humildade. Em primeiro lugar, porque a ciência e a investigação concebidos nestes moldes podem ser verdadeiramente libertadores. Podem aproximar homens e povos, permitir-lhes um melhor conhecimento deste mundo e dos fenómenos que o ameaçam bem como das formas adequadas de os controlar e contribuir, assim, para a sustentabilidade de uma cultura de defesa e preservação da vida em todos os domínios.

Por outro lado, a toda a hora e em todos os locais, o mar nos lembra que, simplesmente, ele é mais de dezoito vezes maior do que a nossa superfície terrestre. Somos muito mais mar do que terra. Ter acesso ao conhecimento cientifico, o mais profundo possível, desta área tão vasta, é um imperativo, quase um desígnio para nós.

A importância que atribuímos ao oceano e à atmosfera pode ser atestada pelo trabalho que se desenvolve, com a indispensável colaboração de parcerias internacionais, no Centro Oceanográfico de Mindelo e no Observatório Atmosférico de Cabo Verde.

Acreditamos que essas duas unidades podem constituir elos importantes nessa malha que laboriosamente está em construção.
Excelências,
Ilustres Convidados,
Minhas Senhoras e meus Senhores,

Para um País como Cabo Verde que aposta fortemente no desenvolvimento da chamada economia azul e que se ressente das consequências das mudanças climáticas, a investigação para o desenvolvimento técnico-científico e a valorização económica no Oceano Atlântico surge como uma oportunidade que deve ser valorada adequadamente não só pelo Governo, mas também pelos outros actores económicos e pela comunidade cientifica e académica do País.

Pela sua importância social e pelo impacto que terá na melhoria do conhecimento sobre o Oceano, nomeadamente no que diz respeito ao potencial para o desenvolvimento de Cabo Verde, a relevância do Centro Internacional de Investigação do Atlantico (AIR Centre) para o meu País é muito acentuada. Na verdade, as vantagens que se espera conseguir para a nossa indústria, bem como para o nosso programa de Desenvolvimento da Economia Marítima em S. Vicente, resultantes das investigações que se pretende realizar no âmbito das actividades previstas para o Centro Internacional de Investigação do Atlântico, serão trunfos que, devidamente utilizados, poderão incrementar, de forma significativa, a atractividade do capital externo para o financiamento do
Programa de Promoção da Economia Azul em S. Vicente.

Nesta perspectiva, a mobilização dos mais diversos actores nacionais, a garantia do acesso às informações relevantes produzidas pelo AIR Centre e a urgente necessidade de se adequar a legislação nacional são medidas que devem ser executadas de forma a que as suas actividades de pesquisa sirvam para impulsionar o sector da economia marítima em S. Vicente cuja dinâmica, assim reforçada, acabará por extravasar para os demais sectores da economia.
Por esta razão, Cabo Verde deve envolver-se séria e profundamente neste projecto cujos objetivos de investigação estão em sintonia com as orientações estratégicas de desenvolvimento da economia marítima consensualizadas no País. Uma estratégia de desenvolvimento definida no pressuposto de que o conhecimento que resulta da investigação oceanográfica leva a uma mudança de atitude, traduzida na redução de custos e na eficiência na utilização de recursos, vale dizer em melhorias num claro ganho de competitividade para o País.

Mas importa aqui realçar que talvez a maior conquista desta nossa participação e envolvimento no projecto do Centro Internacional de Investigação do Atlântico é a possibilidade de os resultados das investigações nos permitirem realizar o ordenamento do espaço marítimo e a consequente identificação e diversificação de zonas segundo as suas vocações, facto que contribuiria, em muito, para uma gestão mais integrada da nossa zona costeira assim como para a protecção da biodiversidade, evidenciando as zonas vulneráveis e facilitando a conciliação entre a actividade económica e a conservação do ambiente. Na verdade, as bacias marítimas identificadas a partir do cadastro e com base nos conhecimentos que se vão obtendo em virtude das investigações permitem identificar o potencial existente e a respectiva utilização em função das necessidades e responsabilidades ambientais.

A partir destas perspectivas pode-se afirmar, sem risco de se incorrer em erros, que o Centro Internacional de Investigação do Atlântico representa uma mais valia e uma oportunidade para o Programa de Desenvolvimento da Economia Marítima consagrada no Programa do Governo de Cabo Verde pelo facto de que parte da investigação será, indubitavelmente, orientada para o mercado pelo que os seus resultados serão acessíveis aos operadores económicos interessados. Dai a importância do envolvimento do sector privado e, quiçá, de toda as organizações da sociedade civil na materialização dos projectos e objectivos do Centro Internacional. Na verdade, só com uma participação efectiva dos operadores económicos, a valorização económica que se pretende com a criação do Centro Internacional se traduzirá em oportunidades de negócios para as empresas e investidores nacionais.
Mas as vantagens do AIR Centre não se esgotam na sustentação da economia azul contribuindo também para a elevação do conhecimento cientifico nos nossos países através de pesquisas com fins académicos e industriais bem como parcerias entre o sector privado, as universidades e o Governo com impacto positivo na capacitação dos quadros nacionais no domínio da energia, mudanças climáticas e, por que não, na avaliação e acompanhamento de espécies marinhas protegidas do Atlântico. A realização de um tal propósito pressupõe, no entanto, uma cooperação estreita entre os parceiros e o alargamento desta colaboração, em áreas de conhecimento e interesse mútuo, no domínio da oceanografia a outras organizações e instituições que têm o Oceano Atlântico como palco de investigação técnico científica.

Excelências,
Ilustres Convidados,
Minhas Senhoras e meus Senhores,

Foi com grande prazer que aceitei o convite para fazer a abertura deste importante fórum que reúne a elite científica que, a nível mundial, se dedica às relevantes questões que dizem respeito ao oceano, à atmosfera e ao espaço.
Nesta oportunidade felicito o Governo, através do Ministério da Educação, pelo empenho colocado na realização deste importante evento, cujos desdobramentos serão, tenho a certeza, aproveitados da melhor forma possível.
Pela qualidade do programa e muito especialmente pela excelência dos participantes, não duvido que este Terceiro Diálogo de alto nível será mais uma importante contribuição na construção do Centro Internacional de Investigação do Atlântico.

Renovo os votos de boas-vindas e excelente estada entre nós aos participantes e desejo que os trabalhos decorram da melhor forma possível
Declaro aberto o Terceiro Diálogo de alto nível do Centro Internacional de Investigação do Atlântico.

Muito obrigado