18 | MAIO | 2018 DISCURSO PROFERIDO POR PRESIDENTE DA REPÚBLICA DR. JORGE CARLOS…

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18 | MAIO | 2018
DISCURSO PROFERIDO POR S.E PRESIDENTE DA REPÚBLICA DR. JORGE CARLOS DE ALMEIDA FONSECA POR OCASIÃO DA HOMENAGEM SOBRE OS 90 ANOS DO ESCRITOR GABRIEL MARIANO, SALA DE CONFERÊNCIAS DO
IILP, DIA 18

Exmo(a)s,
Minhas senhoras e meus senhores
João Cabafume, catraeiro, contrabandista e passador de calaca; Caduca, rocegador de ponta-de-praia, e Capitão Ambrose, líder acidental e voz do povo faminto, entraram no nosso convívio como figuras míticas e literárias, nascidas numa época de grandes convulsões históricas, quer no mundo quer em Cabo Verde, que foi a década de trinta do século XX. À semelhança de figuras literárias de outras literaturas, como Jean Valjean, dos Miseráveis, de Victor Hugo, António Balduíno, Jubiabá, de Jorge Amado, o mito alicerça também as esperanças e aspirações dos mais desfavorecidos. E estes filhos da pena revoltada e inspirada de Gabriel Mariano, carregam em si a face de todos nós, isto é, o desejo de justiça, o gesto solidário e a ambicionada liberdade plena. Tudo isso nas asas da sua lírica inspiradora.
Mas a personalidade do nosso homenageado levanta-nos outras questões: o poeta comprometido penetra e invade o alcance da sentença lavrada, ou esta cede, na sua redacção, ao humanista consciente, que analisa toda a argumentação, a coberto da toga grave e austera? Questão legítima, acreditamos, se pensarmos não ser muito comum a coexistência de poemários e códigos civis na secretária do juiz de direito. Haverá espaço para a lírica incontornável, nalgum dos pratos da balança ao serviço da justiça?
Se o poeta, ficcionista, ensaísta e jurista Gabriel Mariano fosse vivo completaria hoje 90 anos. Mas aos poetas e homens de letras sobram sempre mais anos do que aqueles que, porventura, poderiam vir a completar, nesse alcance da cronologia ou esperança de vida dos seres humanos. Mas também podemos pensar que os anos nunca lhes farão falta, pois que a esses mesmos poetas cabem-lhes as vestes da posteridade, num corte delicado e singelo, com que irão sentar-se nessa ampla academia, nesse fauteuil aveludado da eternidade.
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