Universidade Lusófona de Cabo Verde – Mindelo, 24 de abril de 2025
Excelentíssimos Senhores Reitores,
Distintos Académicos e Investigadores,
Representantes da Sociedade Civil e da Comunidade Internacional,
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
É com elevada honra que tomo parte nesta sessão solene de abertura da Conferência Internacional “Alterações Climáticas e Educação Ambiental”, cuja realização em solo cabo-verdiano, e particularmente nesta cidade de saber, de arte e de liberdade que é o Mindelo, reveste-se de especial significado para todos nós.
Quero, antes de mais, felicitar a Universidade Lusófona de Cabo Verde, na pessoa do seu Magnífico Reitor, que em rede com as universidades italianas de Parma e de Milão, por esta cintilinte ideia de realização deste encontro de reflexão em torno de questões candentes, que se referem ao mundo e a Cabo Verde, em particular, tais que as alterações climáticas e seu impacto nas nossas vidas.
Trata-se de um grande contributo para o agendamento público destas questões e para a formação de políticas públicas que respondam aos reptos dos tempos atuais.
A realização desta conferência ocorre num momento particularmente decisivo. O nosso planeta aproxima-se de um ponto de inflexão ecológica. A ciência é clara: estamos a ultrapassar os chamados limites planetários — os limiares biofísicos que garantem o funcionamento seguro e equilibrado da Terra. A perda acelerada de biodiversidade, o aumento da temperatura média global, a acidificação dos oceanos, a escassez de água doce — são sinais inequívocos de que a acção humana precisa de se reconciliar com os ritmos e limites da natureza.
É neste quadro que Cabo Verde se apresenta: como Pequeno Estado Insular em Desenvolvimento, profundamente vulnerável aos impactos das alterações climáticas — da escassez hídrica à erosão costeira, da desertificação progressiva às perdas de biodiversidade — mas também como voz consciente, ativa e construtiva no debate internacional em torno da justiça climática, da educação ambiental e da valorização do saber local.
O povo cabo-verdiano, forjado em contextos de adversidade climática, desenvolveu ao longo da sua história formas singulares de adaptação, de solidariedade e de resiliência, que hoje se revelam como património valioso na construção de respostas sustentáveis e culturalmente enraizadas.
As ilhas, como nos lembra a nota conceptual desta conferência, ocupam apenas 5% da superfície terrestre, mas albergam uma riqueza incomensurável de espécies, de paisagens, de culturas e d e soluções. São, simultaneamente, espaços de vulnerabilidade e de vanguarda. E é por isso que a voz das ilhas deve ser escutada, valorizada e integrada nas decisões globais.
Permitam-me, nesta ocasião, evocar a figura do Papa Francisco e a sua Encíclica Laudato Si’, onde nos é dirigido um apelo profundo: “o cuidado da nossa “casa comum”. Esta expressão, que transcende confissões religiosas, é hoje um símbolo universal de responsabilidade ética, intergeracional e planetária. Ela recorda-nos que a crise ecológica que atravessamos é, no seu âmago, uma crise de valores, de prioridades, de relação com o outro e com o mundo.
A educação ambiental, tal como aqui proposta — numa abordagem interdisciplinar, colaborativa e crítica — assume-se como instrumento de emancipação, de consciencialização e de transformação social. Educar para a sustentabilidade é empoderar as comunidades, é formar uma cidadania ecológica ativa, crítica e consciente. É criar lideranças comprometidas com a ética do cuidado e com a responsabilidade perante as gerações vindouras.
É precisamente neste quadro de desafios globais que a cooperação internacional assume um papel insubstituível, enquanto alavanca de soluções partilhadas e de justiça climática. E, entre os diversos espaços multilaterais de que Cabo Verde orgulhosamente faz parte, destaca-se a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que congrega Estados de diferentes continentes, unidos por laços históricos, linguísticos e culturais profundos.
A língua que partilhamos deve ser um instrumento de acção comum, e a CPLP, espaço estratégico de concertação em matéria de sustentabilidade, educação ambiental e resposta climática — uma comunidade de afectos, sim, mas também de compromissos concretos, capaz de promover o intercâmbio de boas práticas, a inovação pedagógica sensível aos contextos locais e uma solidariedade climática efectiva e consequente.
Nesta mesma linha, a cooperação com os países africanos deve ser igualmente reforçada e valorizada, à luz dos desafios comuns que enfrentamos no continente — desde a escassez de recursos hídricos à desertificação, da necessidade de transições energéticas justas à promoção de uma educação transformadora. Cabo Verde acredita no potencial da cooperação intra-africana como vector de soberania climática, de partilha de soluções endógenas e de afirmação de uma voz africana mais presente e mais influente nas grandes decisões globais sobre o futuro do planeta.
Nesta conferência convergem perspectivas diversas: da ciência à arte, das políticas públicas aos saberes tradicionais, da tecnologia à emoção. E essa pluralidade é não apenas bem-vinda, mas absolutamente essencial. A crise climática não se resolve apenas com dados nem apenas com vontade política. Ela exige um novo pacto de diálogo entre saberes, entre gerações, entre hemisférios, entre o humano e o não-humano.
Desejo que esta conferência inspire, provoque e conecte. Que daqui nasçam novas redes de cooperação, ideias mobilizadoras e compromissos concretos. Que o Mindelo — cidade de pontes, pelo seu papel no diálogo entre culturas, saberes e gerações; e cidade de mares, pela sua vocação atlântica de abertura ao mundo — continue a ser lugar onde o pensamento crítico encontra espaço, onde as ideias ganham corpo, e onde o futuro se constrói com raízes firmes e horizontes largos.
MUITO OBRIGADO.