PR enaltece figura de Agostinho Neto

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O PR, José Maria Meves realçou em discurso, esta terça-feira , o grande contributo de António Agostinho Neto, direta e indiretamente, a Cabo Verde, tanto no que confere às lutas de libertação de Cabo Verde e Angola, como o contributo dado enquanto médico nas Ilhas. Igualmente  pelas ideias que plantou e ao legado de amizade e cooperação entre os nossos povos e que perdura nos tempos de hoje.

Leia o discurso na íntegra, a seguir, e/ou veja, aqui:

 
Excelência, Comandante Pedro Verona Rodrigues Pires, Presidente da Fundação Amílcar Cabral;
 
Excelência, Senhora Embaixadora da República de Angola, Dra. Júlia Machado;
Magnífico Reitor da Universidade de Cabo Verde, José Arlindo Barreto;
 
Autoridades e Personalidades Presentes
Ilustres Membros da Equipe Reitoral, Docentes, Pesquisadores, Estudantes da UNICV
 
Minhas Senhoras e Meus Senhores
 
Cumprimentando todas e todos, quero felicitar a iniciativa que nos reúne à celebração desta Personalidade Homenageada que, se panteão houvesse, estaria, como está no nosso imaginário, no mostruário dos Grandes Amigos e Parceiros de sempre da nossa Nação Caboverdiana.
 
Sinto-me, por isso, especialmente honrado pela oportunidade de presidir esta homenagem ao Dr. António Agostinho Neto, promovida pela Embaixada da República de Angola, numa parceria em que destacam a Fundação Amílcar Cabral e a Universidade de Cabo Verde, à qual o Presidente da República se associa com renovado júbilo.  
 
Sobre tão destacada figura da história política contemporânea, que poderei eu pontuar que não possa estar já observado, quer em comunicações ou mesmo publicações, as mais diversas, por autores autorizados nos vários campos do saber em que a figura do Dr. António Agostinho Neto esteja já sublinhada com merecido mérito?
 
Será que devo falar do médico, do intelectual e do político, tendo sido ele um dos principais vultos históricos africanos no século XX, líder do Movimento Popular de Libertação de Angola e Primeiro Presidente da República de Angola?
 
Do Dr. Agostinho Neto, que ajudou a erguer a Nação Angolana, enfrentando estoica e heroicamente as invasões estrangeiras e a
guerra civil, fomentada pelos interesses bem localizados da Guerra Fria, ou do estadista, que desde a primeira hora da soberania angolana, olhou para Cabo Verde como amigo e parceiro para todas as horas?
 
Do Nacionalista consequente, que passou por várias privações e provações, prisões e deportações, com marcante e saudosa passagem por Cabo Verde, onde também plantou as suas ideias e deixou saudosas lembranças?
 
Do sujeito ativo da Geração da Utopia que, com Amílcar Cabral, Mário Pinto de Andrade, Alda do Espírito Santo, Francisco José Tenreiro e Marcelino dos Santos, fundaram o Centro de Estudos Africanos e promoveram tertúlias imprescindíveis na Casa dos Estudantes do Império, enquanto universitários em Portugal?  
 
Do poeta engajado às causas e à Sagrada Esperança, mas sem recusar o veio estético, autor dos versos que diziam “Às nossas terras/ vermelhas do café/ brancas do algodão/ verdes dos milheirais/ havemos de voltar”, a lembrarem os do poeta cabo-verdiano António Nunes em como “Sonho que, um dia/ estas leiras de terra que se estendem, / quer sejam Mato Engenho, Dacabalaio ou Santana, / filhas do nosso esforço, frutos do nosso suor, / serão nossas”?  
 
Convenhamos sobre a complexidade de se equacionar um ângulo de abertura e no tempo que se presta fazer esta ponte à Aula Magna, que se segue, sobre uma personagem histórica tão multifacetada.
 
Permita-se-me, entretanto, um rasgo muito pessoal para reiterar o meu respeito e a minha admiração pela pessoa e a obra do Dr. António Agostinho Neto e de, na qualidade de Presidente da República de Cabo Verde, prestigiar tudo o que possa significar esta grada e grata figura para os cabo-verdianos, de várias gerações.
Desejo deste modo testemunhar nesta hora solene o reconhecimento do Povo Cabo-verdiano, por tudo quanto Neto fez pela nossa soberania e pela nossa reconstrução nacional, feito inolvidável e que permite a que o Estado Angolano e o Estado Cabo-verdiano abordem hoje, como dado adquirido, a concretização de uma Parceria Estratégica, esta advinda de aturado trabalho desta tão insigne figura.
 
O Dr. António Agostinho Neto foi acima de tudo umas das grandes figuras do século passado e o que somos hoje, inclusive o vivermos em soberania, em democracia e em transição para o desenvolvimento, não deixa de relevar e debitar à sua transcendente utopia. Muitas dessas páginas, não por acaso, encontram-se lavradas em poesia, como esta que reza e se extrapola em efetividade:
(…)
Nós somos
Mussunda amigo
Nós somos!
 
Inseparáveis
Caminhando ainda para os nossos sonhos.
(…)
 
Minhas senhoras e meus Senhores,
 
O que lhe podemos garantir como Estado de Cabo Verde, além da nossa admiração e amizade, é que a sua obra tem desde sempre lugar cativo na nossa História, e que a sua gesta, também em prol destas ilhas não foi em vão.
 
Vivemos tempos difíceis e complexos. Está em formação uma nova ordem mundial. A África ainda não é um ator político relevante na arena internacional, os termos de intercâmbio económico e cultural com o mundo industrializado e desenvolvido são assimétricos, apesar das enormes capacidades humanas e abundância de recursos naturais do continente. A pandemia e os conflitos intra e interestatais, em África e no mundo, vieram por a nu as fragilidades políticas, institucionais e económicas do continente.  
 
É, pois, tempo de uma nova revolução. De ainda continuarmos a caminhar, inseparáveis, para os nossos sonhos. A África tem de fazer uma re-engenharia das suas instituições políticas e económicas, tornando-as inclusivas, e criar uma cultura de desenvolvimento. Na linha de Norberto Bobbio, a democracia consolida-se quando se torna um hábito.  Só conseguiremos o desenvolvimento se dele fizermos um costume, uma cultura! Se na década de cinquenta, jovens como António Agostinho Neto, Amílcar Cabral, Marcelino dos Santos e Alda do Espírito Santo e tantos outros levantaram-se contra as amarras do colonialismo e conseguiram a libertação dos nossos países, cabe a esta minha geração de líderes africanos levantar-se contra as amarras do subdesenvolvimento e conseguir a liberdade que só o desenvolvimento permite. Esta é a revolução que nos cabe, hoje, fazer.  
 
Neto, este é o sonho para que continuamos ainda a caminhar!  
 
Estamos empenhados a cumprir! Cumpriremos!
 
Viva o Centenário Natalício do Dr. António Agostinho Neto!
 
Um bem-haja a todos vós por esta Homenagem, que a todos engrandece!