Presidente da República dirige mensagem aos trabalhadores, neste 1º de Maio

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Por ocasião do Dia Internacional do Trabalhador, que se assinala neste Domingo, 1º de Maio, Sua Excelência o Presidente da República apela ao Estado, os Municípios, as ONG’s, as Igrejas, as empresas (públicas e privadas), os sindicatos, entre outras instituições, a darem as mãos e socorrerem os que estão a atravessar momentos de grande fragilidade, inclusive de privação de alimentos, neste momento de crise.

O chefe de Estado recorda que os três anos de seca severa, dois anos de pandemia (ainda em curso) e a guerra na Ucrânia resultaram em queda do PIB, mais desemprego e crescente inflação, com um efeito devastador na vida dos nossos trabalhadores e das suas respetivas famílias.

Leia, abaixo, a mensagem, na íntegra, do mais alto magistrado da nação a todos os trabalhadores, neste 1º de Maio.

 

MENSAGEM DE SUA EXCELÊNCIA O PRESIDENTE DA REPÚBLICA POR OCASIÃO DO 1º DE MAIO – DIA INTERNACIONAL DO TRABALHADOR

1 de maio de 2022

Em Cabo Verde, quando se fala do Dia do Trabalhador, geralmente imaginamos alegria, comemorações e muita confraternização. Este ano, infelizmente, o 1º de maio deixa-nos poucos motivos para celebrar. A realidade hoje vivenciada por muitos trabalhadores não constava das nossas previsões mais pessimistas, de há um par de anos.

Uma série bastante improvável e consecutiva de ocorrências incrivelmente desfavoráveis para a nossa economia tiveram um efeito devastador na vida dos nossos trabalhadores e das suas respetivas famílias. Três anos de seca severa, dois anos de pandemia (ainda em curso) e a guerra na Ucrânia resultaram em queda do PIB (que em 2020 já era de 14,8%), mais desemprego e crescente inflação.

Não é difícil de imaginar, principalmente, o sentimento e o estado de carência dos chefes de família que perderam os seus postos de trabalho e de muitas famílias que hoje dispõem de muito pouco ou mesmo nenhum tipo de rendimento, estando mesmo em causa a satisfação das necessidades mais básicas. Estamos perante um drama social cujo impacto é mais sentido pela população de rendimento baixo, cuja erosão do poder de compra a torna incapaz de adquirir os produtos de primeira necessidade.

Temos plena consciência de que muitos desses lares, que têm passado por momentos de penúria, são chefiados por mulheres, e que a pobreza tem o rosto feminino. Dedicando-se à agricultura de subsistência, pecuária, venda ambulante, ou outras atividades similares, duramente atingidas por esta crise persistente, estas mulheres, que carregam Cabo Verde às costas, muito mais do que bons propósitos, clamam por ações concretas, com impacto nas suas vidas e que possam concorrer para a resolução dos seus problemas mais ingentes.

Se por um lado está a ser posta à prova a capacidade de sacrifício e de resistência das pessoas mais vulneráveis, também não deixa de ser o momento de todos os cabo-verdianos, residentes e na diáspora, mais uma vez, demonstrarem toda a sua compaixão, empatia, solidariedade, generosidade e sentimento de partilha para com todos os que estão a atravessar um momento de dificuldade e de provação.

O cabo-verdiano é feito de uma fibra que não lhe permite baixar os braços, cair em desânimo ou capitular perante obstáculos. Tenho a certeza de que, com o recurso às qualidades mais nobres deste povo, muito rapidamente, o que é hoje uma esperança de dias melhores, muito em breve deixará de ser uma miragem, para se transformar numa firmeza em dias melhores, de felicidade e de progresso para todos.

Cabo Verde é obra comum de todos, tendo chegado a este patamar de desenvolvimento, de que todos nós nos orgulhamos, graças ao contributo e à abnegação de gerações de trabalhadores. Estes, através dos sindicatos, de forma organizada, ou então individualmente, sempre agiram com responsabilidade e dedicação, ao longo de anos, com resultados muito positivos que hoje desfrutamos. Por outro lado, constata-se que esses mesmos trabalhadores têm vindo a conviver, de forma cada vez mais acentuada, com o desemprego, emprego precário e a perda de poder de compra.

Perante uma realidade tão adversa, o lema de que “juntos somos mais fortes”, sugere uma sindicalização mais generalizada como a melhor maneira de os trabalhadores se unirem, de forma coletiva e em coligação de esforços, em defesa das causas que lhes dizem respeito. E quanto mais representativos e vigorosos forem os sindicatos, tanto melhor estes conseguirão representar e defender os seus filiados. O momento é o mais apropriado para a preservação e o reforço das instituições sindicais, que estão alicerçadas na história, graças aos contributos decisivos para a afirmação do sindicalismo em Cabo Verde.   Pelo contrário, fragilizar o sindicalismo é fragilizar o trabalhador. Assim, deixo um veemente apelo para que, de forma serena, com capacidade de diálogo e equilíbrio possam ser encontrados os melhores caminhos de convergência, que dignifiquem e reforcem os sindicatos, que são pilares do Estado de Direito Democrático.

Volto a apelar à ação, ao espírito de entreajuda no sentido de amparar todos aqueles que experimentam maiores dificuldades no seu dia-a-dia. O Estado, os Municípios, as ONG’s, as Igrejas, as empresas (públicas e privadas), os sindicatos, estão convocados a darem as mãos e socorrerem os que estão a atravessar momentos de grande fragilidade, inclusive de privação de alimentos.

Esta sequência de eventos adversos, tanto para os trabalhadores como para Cabo Verde, deve levar-nos a refletir sobre todas as nossas vulnerabilidades e agir de forma a nos tornarmos cada vez mais resilientes, nós e a nossa economia. Urge analisar as nossas fraquezas e agir em conformidade. A todos os níveis, há que ter a exata noção da realidade e interiorizar a cultura de poupança, de racionalização e de busca de eficácia no uso dos recursos e na concretização dos objetivos preconizados.

Faço votos para que, no próximo ano, sem seca, pandemia ou guerra, esta crise já tenha sido ultrapassada e que tenhamos fundadas razões para celebrar o 1º de maio com paz, alegria, emprego para os trabalhadores e confiança no futuro.